Cartas de Amor
COMO não uso as maquininhas, o zap, face, esses trecos, uma amiga me enviou por intermédio de minha filha, uma cópia de uma carta de amor escrita por mim. No telefone, avisando do envio, ela que canta muito bem, cantou um verso de uma música de Roberto (acho que versão): "Ontem amor, eu reli/ as cartas que te escrevi/ frases repletas de amor. que por você eu senti/ sofri...".
Só fui compreender de fato e me emocionei quando li a tal"Carta de Amor". Confesso que marejei olhos. Escrevi essa carta quando tinha 17 anos. A carta tem mais de cinquenta anos. Escrevi essa carta a pedido de um amigo do peito. Na minha patota era eu quem melhor escrevia, mesmo que na escola tivesse sido uma nulidade em composição e dissertação. Outro empecilho para a escrita de cartas era que devido a letra ser péssima só escrevia em letra de forma, mas a letra dos outros era ainda pior. Detalhe: essa carta que escrevi foi muito importante: gerou namoro, noivado e casamento que dura até hoje. E não foi uma carta mas um tipo bilhete. Ei-lo:
"Nildinha,
Eu te amo demais. Meu sonho é namorar com você. Mas sou muito tímido para me declarar. Não sei também se você aceitaria e se desse errado eu poderia ter um troço. Se você aceitar ou não aceitar mande dizer por carta. Se você não aceitar vou embora pra São Pauloe nunca mais volto. Saudações. Zezinho de Dona Lia".
É claro que ela notou na hora quem tinha escrito o bilhete, fora minha colega de escola e conhecia minha letra de forma. O que ele não sabia e só soube muito depois é que foi de minha autoria a chantagem tipo ir embora para São Paulo. A resposta foi positiva e veio num envelope bonito e dentro a cartinha estava perfumada. Dizia: "Zezinho, não vá pra Sau Paulo não, aceito namorar com você. Eu te amo. Nildinha".
Ela me disse que vai ampliar as duas cartinhas e colocar num quadro. Fiquei bestinha porque ela disse que vai fazer um almoço nos trinques regado a ma cachacinha mineira, mas só depois que passar a pandemia. O almoço será em minha homenagem.
Durante muito tempo escrevi muitas cartas para várias pessoas, notadamente pessoas que não sabiam ler e escrever. Elas ditavam e eu mandava brasa na maquina de escrever, às vezes dava uma enfeitadinha. Lembram daquele filme com Fernanda Montenegro que ela escrevia cartas ditadas por pessoas? Eu fazia isso na realidade.
Mas nunca mais escrevi uma carta de amor. Inté.