"O acaso vai nos proteger?"

Você já parou para pensar quantas bobagens evitáveis praticamos o dia todo sem perceber e de repente vem à tona uma avalanche de problemas a serem resolvidos, porém acarretados por  um mero descuido nosso, como disse, evitável? Se nunca podíamos confiar em alguém há tempos remotos, hoje em dia é que não o podemos... porém muitos de nós ainda insistimos no acaso. Nem sempre o "acaso vai me proteger / enquanto eu andar distraído". Eu não confiaria tanto assim nele.

Vejamos a seguinte situação: na ida ao centro da cidade, véspera de feriado nacional, comércio lotado, lojas cheias, capital girando... Percebo uma mãe, muito jovem por sinal, com sua filha -  que aparentava uns três anos de idade. Ao vislumbrar-se com determinada peça do vestuário, a mãe adentra na loja, questiona se lá possui provador, quais as formas de pagamento, se tem seu tamanho e tal...coisas que todos nós fazemos na ida às compras, óbvio. O fato é que, enquanto isso acontecia, a filha - repito: aparentemente com 3 anos! - fica na calçada da loja e, enquanto a mãe se direciona ao balcão, a criança dá alguns passos e se encosta num puxadinho, para olhar os passantes, carros e ônibus que se movimentam de um lado para outro continuamente, incansavelmente e, ao ver isso, a menina se distrai totalmente, se vulnerabiliza. Percebo que a matriarca se deu conta de que sua filha não a acompanhava apenas alguns minutos depois.

Como boa observadora, e sem estar com tanta pressa assim, fiquei por um bom tempo a observá-las... Confesso que a angústia me visitou ao ver aquele individuozinho - tão inocente - desamparado...as pessoas passavam por ela, a olhavam, mas não a viam. Incrédula, já ia me aproximando para perguntar sobre sua mãe, levá-la comigo para junto daquela que não percebeu ainda sua ausência, mas no mesmo instante àquela sentiu falta da sua cria e, de imediato, veio junto, a chamando para acompanhá-la. Que alívio! Imaginei logo que basta uma fração de segundos para acontecer alguma desgraça conosco, alguma tragédia. Basta apenas estarmos no lugar errado, na hora errada.

Precisamos ter mais cuidado com nossas crianças, é por meio de uma "pequena" - ou mesmo absurda -  falta de atenção que muitas se perdem e pessoas - no caso, as mal intencionadas, a sequestram para fins horrendos, deploráveis: trabalho infantil, exploração sexual, tráfico humano, "doações" ilegais, tráfico de órgãos...enfim. Não pensem que estou sendo hiperbólica ao pensar nisso, podem não conhecer tais práticas, mas os gráficos e anúncios a este respeito estão aí: crianças e adolescentes desaparecidos. Talvez essa realidade não faça parte do nosso cotidiano (assim espero), mas, se for o caso, trata-se de uma exceção?

Qualquer cidadão, por lei - e antes de mais nada por humanidade, empatia - tem o dever de proteger a criança ou o adolescente (ou quem quer que seja) de situações que ocasionam essa falta de respeito e dignidade pelo ser em construção, vemos isso no ECA, na vida... E tal proteção começa desde uma simples música/filme/novela não apropriada para o público em questão, como também em relação à venda e consumo de bebidas alcoólicas, trabalho infantil. Jamais devemos ficar omissos diante desse desequilíbrio social, humano. Todos, sem exceção, devemos contribuir para o crescimento dessas crianças e  jovens. Isso não cabe apenas ao pai ou mãe/responsáveis, mas a todos, principalmene quando aqueles falham ou são ausentes. Isso não significa dizer, porém, que interferiramos na vida do outro sempre que "acharmos melhor", sejamos sábios para que possamos atuar coerentemente a esse respeito.

Grande abraço!