MEUS LIVROS DA INFÂNCIA
Hoje manuseei os meus livros de histórias infantis, todos a mim oferecidos por minha saudosa mãe no ano de 1955. Nesse ano eu tinha 11 anos de idade, de modo que os livros guardam 65 anos de vida bem guardados em meus arquivos e em minhas lembranças. Um de número 56 fazia parte da Biblioteca Infantil das Edições Melhoramentos, O Caçador sem Medo. Outros 5 faziam parte da coleção da Editora do Brasil, Dona Baratinha da Silva Só, O Peixinho Voador, O Gigante Preguiçoso, O Filho da Floresta e Aventuras d’El Rei Dom Caracol.
O Caçador sem Medo conta a história de Guilherme Tell, o caçador que lutou pela liberdade de seu país, a Suíça, contra o império austríaco. Uma adaptação da história desse herói lendário do início do Século XIV, que foi obrigado a provar sua habilidade com o arco e flecha, tendo que acertar uma maçã posta sobre a cabeça do seu filho por ordem do governador. Este livro hoje está classificado como raro pelos livreiros e sebos.
Histórias da Carochinha estão nos outros livros. Dona Baratinha que queria casar, Don Pasquá que queria ser o dono da lagoa, O peixinho voador que queria saber quem acende a lua, o gigante preguiçoso que se tornou trabalhador, o filho da floresta que não se adaptou à vida da cidade, o caracol rei que viajou para descobrir como fazer uma casa para seus súditos.
Estas historinhas ao lado das eternas Branca de Neve e os Sete Anões, Rapunzel, Alice no País das Maravilhas, O Gato de Botas, A Bela Adormecida, Chapeuzinho Vermelho, O Pequeno Polegar e tantas outras enfeitavam o meu mundo de criança como ainda hoje os das crianças de todos os lugares.
A literatura infantil é riquíssima em criatividade que incitam a imaginação das crianças deixando-as como a viver num país encantado, onde para se conquistar a felicidade muitos perigos devem ser vencidos. E cada historinha vai moldando o caráter de cada uma delas, construindo um ser humano impregnado de virtudes.
Carochinha é a palavra que ganhou status no Brasil para designar as histórias infantis. De origem portuguesa significa baratinha, mas para nós brasileiros representa a velhinha contadora de histórias, às vezes com forma de uma barata, decerto em razão de assim ter sido apresentada por Monteiro Lobato em suas Reinações de Narizinho.
Tenho dois netinhos que têm sido para mim um desafio, pois a cada instante me impulsionam a habitar o mundo deles. E ao adentrar a esse inocente mundo, vejo-me sempre retornando ao meu mundo de criança. Tanto que ousei escrever uma historinha para eles, que dei por título A Coelhinha Obediente. Como estamos em tempo de pandemia, o objetivo foi o de fazê-los compreender a necessidade de ficar em casa para se protegerem e ao vovô também.
Meus livrinhos e outros já fazem parte da vida deles. Aqui e acolá lemos esses livrinhos para eles. É muita alegria o relacionamento com a geração dos netos. A gente quer até que o tempo jamais passe, para continuarmos vivendo com eles os encantos do mundo infantil e, dessa forma, irmos também purificando os nossos corações das agruras da vida adulta e das incertezas do futuro. As crianças são bençãos de Deus.