A nossa querida África, as nossas gentes.( muitas carências...)

A África que nós conhecemos era muito carente sim, mas com princípios de educação e comportamentos certos numa sociedade de regras sociais e leis a serem cumpridas. Tudo isto nos deu um padrão cultural elevado apesar das muitas dificuldades e necessidades básicas quase que intransponíveis mas, possíveis de serem enfrentadas.

Tudo se resolvia no final, e se ainda houvesse algo a solucionar seria por não ter chegado ao final, ainda.

Minha amiguinha moçamedense, angolana Marilia, filha de meu padrinho, que cresceu ,casou e formou família em terras moçambicanas do outro lado da costa africana, começou a dar aulas de matemática em Cahora Bassa , local onde o marido ,engenheiro, tinha sido colocado pra trabalhar. “Terras de fim de mundo”quase sem nenhum conforto e onde faltava muita coisa mas , de vidas felizes e amigos muito unidos.

Nas escolas muito rudimentares, de construção pré fabricada, viam-se ratazanas a passar, mas ...ninguém se assustava.Eram coisas de África e sabiam que as dificuldades se resolveriam aos poucos .Era assim que pensava a dedicada professora Marília. Durante muito tempo as aulas eram só até ao antigo 3º ano precisamente porque existiam dificuldades, muitas dificuldades.

Apesar de tudo, eram escolas boas, de salas enormes e que podiam acomodar seus alunos com certo conforto. Mais tarde, mais precisamente quando se fez o 3º ciclo, adaptou-se uma “messe” e houve considerável melhoria sem no entanto de eficiente funcionamento.Por exemplo, naquele tempo ainda não existiam guardanapos de papel, então eram os de pano os usados mas, infelizmente sem condições de serem lavados regularmente.Cada cliente procurava uma pontinha ainda sem uso para limpar a boca. Assim se vivia...No entanto, pais e mães sempre orientavam os filhos sobre necessários cuidados a serem tomados e eles entendiam perfeitamente como as coisas deveriam funcionar corretamente.

Um vez, mas não a 1ª, Marilia e sua grande família foram passar uns dias de férias à cidade da Beira num bom bangalô com ótimo serviço de hotel e portanto já com um conforto diferente da vida rotineira em Cabora Bassa onde viviam. Chegaram cansados, mas felizes da vida; caíram redondos na cama. Acordaram na manhã seguinte ansiosos para conheceram o restaurante do Hotel e saber de todos os “luxos” que existiam por ali. Quase que a passo de corrida chegam à sala da 1ª refeição do dia para o “pequeno almoço” e...

- “oh, que beleza!” – disseram em coro.

O Zé, o filho mais velho( aquele da estória do elefante), o mais observador e talvez o mais falador, corre para a ponta da sala onde estavam enfileirados guardanapos branquinhos, impecavelmente passados a ferro a carvão, e grita para a Mãe na outra ponta do restaurante:

- “Ó Mãe, aqui até tem guardanapos lavados. São tão bonitos! Mas olha, espera aí que eu tenho de ir ao banheiro”- disse o Zé aflito.

Demorou algum tempo, o necessário para inspecionar tudo detalhadamente, com certeza, e quando chega esbaforido à sala já vem com a sua 2ª “pérola” do dia :

- “Ó mãe , este Hotel é tão chique, tão chique que até tem papel higiênico.Precisas também ir à casa-de-banho( banheiro).Só vendo !”.

E sentou-se( para sossego de sua Mãe), comportadamente à mesa para fazer uma das suas mais chiques refeições naquelas terras de África.

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Lana

Lady Lana
Enviado por Lady Lana em 11/10/2020
Reeditado em 11/10/2020
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