UM POUCO DE TUDO EM UM PINGO DE NADA.

Basta uma pequena e superficial observação para se notar certo incômodo nos olhares da maioria deles. É sempre a mesma coisa, desde que comecei a trabalhar nessa empresa.

Para começo de conversa, poucos utilizam as escadas que dão acesso ao refeitório, que, figura-se dois andares abaixo do nível da loja, portanto, quatro pequenos lances de escadas. O elevador é muito disputado, está sempre lotado, quando ele está de manutenção preventiva, a reclamação é generalizada.

O refeitório é bem espaçoso, possui duas mesas de bilhar, as mesas e cadeiras do próprio refeitório, puff para descanso, oito ou nove eu acho, se não me falha a memória, esses por sua vez, também disputados para o momento da sesta.

No geral, temos uma hora e cinquenta de almoço, alguns, e esses são poucos, fazem uma hora e dez. Claro que, no primeiro momento até pareceu bom ter o almoço tão prolongado, porém, para quem entra a seis da manhã no trabalho, sair mais cedo é o essencial, com tudo isso de intervalo é impossível chegar em casa cedo.

Outro item interessante do refeitório é a pequena biblioteca localizada no canto de uma das paredes, não é um número expressivo de livros, mas, são títulos belíssimos, para quem gosta de ler, uma maravilha.

Geralmente, meu almoço varia de horário, de meio dia para frente.

O refeitório fica sempre lotado, enquanto alguns almoçam, sempre com seus respectivos grupos de trabalhos, outros, jogam bilhar, fazem até fila, atrevo-me a dizer que os mais viciados deixam de comer somente para jogar. A empresa não fornece almoço, cada um tem que levar sua própria marmita, guardadas em uma das duas geladeiras, ou, depositadas no marmiteiro onde ficam em banho Maria. A minha tenho preferência pela geladeira. No início achei tudo muito estranho, eu que vinha de uma grande empresa, com restaurante integrado, agora tendo que esquentar marmita, estranhei, porém, me acostumei logo a nova realidade.

Não sou desses que comem rápido, demoro um pouco, gosto de sentir o sabor dos alimentos, gosto de observar as pessoas enquanto estou comendo. E por falar em observá-las, surpreendo-me às vezes com alguns tipos aqui. O que percebi de imediato, que a maioria, principalmente os mais jovens, nunca trazem suas marmitas, quando não compram pronta, saciam a fome com bolachas, chocolates e refrigerantes. Não sei como conseguem se sustentaram com tão pouco, eu já teria morrido no lugar deles.

No refeitório vale de tudo, aglomeração é constante, ninguém mais liga para a COVID-19, nem se fala mais nela, no começo da pandemia tinha-se todo cuidado, agora, cuidado passou longe.

Puff disputado, alguns se jogam de qualquer jeito, barriga para cima, roncos altos. Outros mais atrevidos ficam de conversa com as meninas do caixa, celulares nas mãos, doidos para conseguir um esquema qualquer, a maioria de casados. Traição acontece sim, e de ambas as partes.

Reclama-se muito, de quase tudo, aliás, os homens reclamam mais do que as mulheres, gabam-se tanto, mostra-se pouco. Tenho profunda admiração de algumas mulheres dessa empresa, guerreiras de verdade.

Eu poderia falar mais, assunto é que não falta, mas, por hoje é somente isso, afinal, eu vivo um pouco de tudo em um pingo de nada.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 11/10/2020
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