Miragem Humana

Era noite, estava na mesa em frente a pastelaria Pastello esperando o lanche ficar pronto, quando minha irmã olhando para o telefone, disse:

— Valéria: Eu só espero que ele não esteja apaixonado por mim

— Mãe: Mas ele é tão bonitinho

— Valéria: Mas ele mora na Cidade Operária, e eu também não estou apaixonada por ninguém

Mas eu estava. E muito. Perdidamente apaixonada por alguém. Um sentimento que nunca sentir antes. Porém só tinha um problema.

— Mãe: A novela já está passando! Vamos ficar lá dentro para eu vê-la

Minha mãe e minha irmã se levantaram e antes de entrar, ela disse:

— Mãe: Você vem, Valdusa?

— Valdusa: Não, vou ficar por aqui mesmo

— Mãe: Tudo bem. — e em seguida, ela entrou na loja

Peguei minha carteira do Rick e Morty de dentro do bolso do meu short. Fiquei olhando por um tempo. Essa era a carteira que eu devia ter dado no aniversário dele. Ele teria amado. Coloquei ela perto da minha boca e dei um beijo nela. Depois olhei a frase escrita: Wubba Lubba Dub Dub. Baixei minha cabeça enquanto absorvia aquela frase. Engraçado como essas quatro palavras, se tornaram de uma hora para outra, importantes na minha vida. Esse era nosso código. Quando acontecia algo de ruim conosco, ao invés de a gente dizer que estava com problema, mandavamos mensagem ou dizíamos isso para o outro. E logo, já entendiamos do que se tratava.

— Estarei sempre nas suas vitórias, mas principalmente nos seus Wubba Lubba Dub Dub

Eu reconheço essa voz. Não é possível. Eu não acredito. Levanto minha cabeça depressa ainda perplexa por vê ele sentado bem na minha frente

— Valdusa: Rodrigo???

— Rodrigo: Oi neném — disse, soltando um sorriso lindo

— Valdusa: Senti sua falta... Como me encontrou?

Ele colocou sua mão sobre a minha, fazendo carinho. Como eu senti falta do toque dele. Como eu senti falta do sorriso dele. Como eu senti falta do cheiro dele. Como eu senti falta de ver ele. Como eu senti falta dele. Ele me olhava com um semblante que eu já vi várias vezes. Eu sabia o que ele iria falar logo em seguida:

— Rodrigo: Eu também senti sua falta, neném. Muito mesmo. Mas você sabe que é arriscado demais eu me encontrar com você. Não sabe?

— Valdusa: Eu sei. Mas isso é temporário, eu te prometo. Daqui a pouco vamos está logo logo juntinhos

— Rodrigo: Nosso futuro não nos pertence, Valdusa — disse, enquanto tirava sua mão de cima da minha

— Valdusa: Não gosto quando você diz isso. Eu não sei você, mas se eu quiser, eu decido meu futuro sim! — digo, sendo bem ríspida — E eu escolho você. Eu escolho te esperar. Quando for 21 de dezembro de 2027, eu vou está lá esperando você me buscar. Eu prometi a você e vou cumprir. Não porque é uma promessa, mas porquê eu quero. Não importa aonde você for, vou junto contigo. Eu quero passar o resto da minha vida com você, Rodrigo.

Ele me encara supreso, como se estivesse absorvendo ainda tudo o que falei. Só porque sou uma adolescente de 19 anos, ele acha que tudo que eu falo é momentâneo. Mas ele está muito enganado. Posso ser uma pessoa muito movida pela emoção, mas sou bem decidida do que eu quero na minha vida. Depois de alguns minutos, ele sorri para mim.

— Rodrigo: Combinado. Eu volto para te buscar então — disse, enquanto eu abria um sorriso enorme. Estou tão feliz em ouvir isso!

— Valdusa: Eu amo sua companhia mas acho melhor você ir embora, antes que minha mãe e minha irmã te vejam

— Rodrigo: Mas Valdusa, eu não...

— Mãe: Valdusa, pegamos os pastéis. Vamos embora

Eu viro para minha mãe tentando encontrar alguma desculpa para dar por vê nós dois ali. Que desculpa eu vou dar? "Oi mãe, então, o cara que a senhora odeia e me proibiu de vê-lo esbarrou por aqui comigo por coincidência e ficamos conversando até agora". Realmente, não tem como achar alguma desculpa boa para aquela situação. Me virei para o Rodrigo, para ele se preparar logo por sermão que estava por vir. Mas ele sumiu. Evaporou. Olhei para os lados para vê se ele tinha corrido, mas não vi nenhum sinal dele. E foi aí que minha ficha caiu. Ele nunca esteve aqui. Essa conversa nunca existiu. Só era apenas eu, minha carteira e meus pensamentos em forma de miragem.

A Garota do Nome Estranho
Enviado por A Garota do Nome Estranho em 09/10/2020
Reeditado em 09/10/2020
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