KARAOKÊ
Hoje vão fazer uma festa de aniversário para uma colega de trabalho. Durante uma semana, uma colega saiu coletando dinheiro para comprar presente e a comemoração seria numa pizzaria perto do trabalho, assim, não atrapalharia ninguém na hora de ir embora.
Ela não queria participar. Gostava até da aniversariante, mas a comemoração é que seria demais.
Teria que ir, teria de fazer o seu papel, às vezes, somos colocados em determinadas situações que somos impelidos a ter que realizá-las, participar, ficamos vulneráveis a pessoas e acabamos por ser o que não gostaríamos de ser. Apenas fazemos parte de algo muito maior do que nós.
Somos empurrados e agora temos que nos agarrar em qualquer coisa que estiver pelo caminho para ficarmos ainda de pé. “Não gostaria de ir a essa festa. Até que pode ser legal, mas não quero”! ela pensa. Enquanto tenta de alguma forma arranjar uma desculpa para escapulir da comemoração, mas nada vem a sua cabeça. A única coisa que pensa é em falar a verdade. “A verdade é melhor camuflagem. Ninguém acredita nela” - lembra desta passagem em um livro que leu, mas com certeza, se falasse a verdade ninguém iria acreditar.
Terminado o trabalho, todos se reúnem na calçada e caminham em pares trocando palavras aqui outras ali. Chegam à pizzaria, sentam-se e continuam conversando entre eles.
Fica só observando a alegria das pessoas. Ela, às vezes, se sente bem. Ri, participa mas são coisas aleatórias. Olha sistematicamente para o relógio: “ 8 horas irei me despedir com uma desculpa de trânsito e sairei correndo. Preciso ir “!
Enquanto a hora não passa para ela, seus colegas contam piadas, outros participam de um karaokê.
Ela jamais faria isso! Cantar em um palco, seria o extremo de uma exposição! Não quer ficar exposta, ser vista e até mesmo deliberadamente ser julgada!
“Que eles me julguem, me critiquem, mais longe de mim”! Participar de um karaokê? Ela se imagina no palco com todos a olhando esperando que cantasse!
E se não conseguir? se não soltar uma palavra? se desmaiasse de pavor? Correriam para socorrê-la caída no palco. “Que desastre! prefiro morrer se acontecesse alguma coisa comigo e depois virar notícia por semanas “!
Consegue fugir das armadilhas dos colegas, olha o relógio. Já está na hora. Ficou o suficiente para não ser deseducada e o suficiente que poderia suportar.
Sai. Caminha devagar pelas ruas, não tem tanta pressa assim. Só queria sair de lá. Acende um cigarro e caminha. Sua condução chega logo.
Apaga o cigarro e entra no ônibus e fica pensando numa coisa, depois outra até que a lembrança da festa desaparece da sua mente!