O mar me ensinando (06.10.2020)
O mar é como um mestre ignorante para nós... Ou pelo menos pra mim, pois ele se doa às pessoas que o buscam, sem, contudo, saber o que farão nele ou depois de tê-lo adentrado. O mar, algo que conecta todos os países e só muda de nome, dependendo do oceano em que se está, mas é o mesmo mar.
Ele me ensina a ter calma, ele acalma por si só, mesmo que às vezes esteja revolto. Porém, acho que isso é como o reflexo da própria vida, ou pelo menos da minha: estou calma, mas há momentos em que a ansiedade bate, ou mesmo a revolta com algumas coisas que acontecem.
Há quem diga que o mar, depois de mais ou menos 70km (?) se curva e acaba. Mas acontece que, na verdade, ele é infinito. E nessa infinitude há muito a aprender. Coisas não mais alcançáveis que afundaram (que foram longe demais em buscar o que o mar tem a ensinar, talvez) ou mesmo o que cada um sente ao contemplar essas ondas lindas... E essa cor...
Conectando vários países e continentes (vários dos quais nem mesmo sei o nome, ilhas e ilhotas sem fim), me lembro um pouco de Jacotot, que queria ensinar sua língua nativa sem saber sobre a língua de seus “alunos”.
Mestre ignorante, para quem não está no contexto, não é propriamente no sentido de um mestre que não sabe algo, mas sim não sabe o que o “aluno” fará com o conhecimento que recebeu (ou que não recebeu, este é o mistério e a graça da coisa). Além disso, também não é fingir não saber. E a relação que eu faço aqui com o mar é justamente...! O mar sabe muitas coisas, viu muitas coisas ao longo de toda a História da Eternidade, mas nem tudo ele ensina para nós, nem tudo ele nos diz. Nem tudo nos é possível saber sobre a famosa imensidão azul, das coisas que ele guarda...
Nessas reflexões enquanto vejo o mar e penso sobre as aulas deste assunto na faculdade, penso em como um aluno pode extrair várias coisas do que lhe é ensinado, inclusive nada. Do mar um só ser pode tirar várias coisas, físicas ou reflexionais, bem como várias pessoas podem tirar mais várias coisas destas somente contemplando-o, ou mesmo adentrando em suas profundezas, até onde se consegue chegar um ser humano.
O mistério do mar é algo que sempre me fascinou de uma forma que as palavras não dão conta de dizer. E como eu estava com saudade dele! Hoje não me banhei em suas águas, mas a primeira vez que fiz isso... Já desde antes da quarentena que isso não acontecia e então...
Estaria alguém que apenas olha o mar adentrando nele mais do que ou no mesmo nível de um mergulhador, ou mesmo das pessoas que já tiveram o privilégio de entrar na Fossa das Marianas? Aqui novamente volto ao que o mestre não sabe sobre o que seu aluno depreenderá de sua... Explicação? Ou exposição? (Ou – por quê não? – diálogo?).
Este texto me veio em um surto de inspiração enquanto me preparava para encontrar meu amigo mais uma vez, e há um tempo que aprendi a não ignorar esses surtos que, diferente dos que foram citados alguns parágrafos mais acima, eu tenho imensa satisfação em sentir chegando e também aproveitar enquanto está aqui.
Paulia B. Sousa