SAUDADE
Que sonho leve e afetivo! Estava na Maison de France para encontrar um antigo colega de infância do Ensino Básico. Lembrança de quando morava no interior, e minha mãe tinha uma amiga com um filho, Nelson. Este foi meu colega nos cinco anos da Escola Pública.
Queria voltar a fazer um curso de língua francesa e, minha tia o indicou, pois era professor na Maison. Fiquei emocionada com o futuro encontro, pois éramos muito amigos. Fazia tempo que não o via, e era uma boa maneira de voltar a revê-lo. Fiz o teste e voltaria outro dia para efetuar a matrícula e confirmar a turma. Uma possibilidade de reencontro que se deu de forma fraternal. E era para ser assim, apenas retomávamos o sentimento que ficara no passado. Depois de finalizar todos os trâmites de acesso ao Curso fomos lembrar nossa infância numa padaria próxima.
Que legal! Acordei feliz ao refazer a ponte entre inconsciente/consciente com essa singela lembrança afirmativa do valor da Amizade.
É sempre útil tentar entender os sonhos bem ao estilo da interpretação freudiana. São recordações que afloram como momentos mágicos retidos na memória. Dá a impressão que não foram vividos por nós, já que não se pode voltar atrás, como nos filmes em que entramos na máquina do tempo. Misturei realidade com a fantasia que me fez reter uma sensação fugaz de felicidade. Foi um momento que afirmou com delicadeza que a vida vale a pena.
Quais seriam os desejos recalcados neste sonho:
-- amor infantil, afinidade eletiva, amizade como tipo ideal?
-- a figura masculina como eixo de lealdade e protagonismo (complexo de castração)? – ou simplesmente querer voltar a um tempo perdido?
Essas indagações confirmam o homem como um ser fragmentado sempre em busca de suas memórias, afetos, vivências, objetivos e metas. A saudade da infância é uma sensação mais de perda do que de ganho. Entretanto como é bom sentir saudade, resgatando um momento que se perdeu no vácuo do tempo. A dor pode ser acolhida com a mesma reverência que se tem com a alegria. Dor e alegria são dualidades que se intercruzam no choro. Esta dialética dos sentimentos acompanha o homem do início ao fim de sua vida.