Transtorno de Ansiedade Social (T.A.S)

Em um momento, que várias bandeiras inclusivas são levantadas, não vejo uma voz relevante falar sobre o Transtorno de Ansiedade Social (T.A.S). Se viver em silêncio já é uma grande dificuldade, viver em um mundo que se cala diante da dor de alguém, é ainda maior. O que não me surpreende que o T.A.S seja uma das maiores causas de suicídio. Como se entender sem representatividade?

E justamente por isso, resolvi falar sobre esse assunto. Não posso me abster ou ser indiferente, se nasci com esse traço tatuado na alma. Vejo milhares de pessoas sofrendo diariamente, deslocados por se sentirem estranhos ou pela estranheza que causam, justamente por não saberem o motivo de ser como são. E como qualquer “transtorno”, quanto antes houver o diagnóstico, maiores as chances de recuperação.

Ansiedade social não é timidez, ainda que tenha semelhanças com ela. Mais do que um constrangimento e dificuldade na interação e manutenção social, o ansioso social tem uma disfunção que o paralisa, especialmente diante de grupos ou situações de exposição, apresentando inclusive sintomas físicos variados derivados da ansiedade como: excesso de suor, taquicardia, falta de ar,...

A grande dificuldade desse distúrbio de personalidade é que ele é visto como uma aparente normalidade. Enquanto nos dizem: “Ele é quieto, é só o jeito dele”, nossa alma grita por um pedido de socorro. “Você precisa sair mais” como se tudo fosse condicionado meramente a vontade, o que costuma agravar o sentimento de incapacidade.

Tenho observado ao longo da vida, crianças com alguns sinais (e os pais ignorando o fato), mas os sintomas são certamente agravados na adolescência, uma vez, que somos convidados a fazer parte de grupos e se iniciam as relações amorosas. Enquanto o mundo nos convida a ir para fora, acabamos nos isolando dentro de nós. Assim, comprometendo relações pessoais, familiares, afetivas e profissionais. E consequentemente, recebendo rótulos diversos e gerando um crescente sentimento de inadequação. Uma existência “invisível”.

Sempre tive uma característica diferente: buscar me autoconhecer, observar tudo ao meu redor (já que não tinha uma grande interação) e tentar superar os meus limites. Ainda assim, não consegui evitar uma depressão no meio do caminho e ter beirado à morte. Justamente, por ter tão pouca informação ou discussão, é um caminho solitário, longo e árduo de tentativas. Sem atalhos ou apoio, uma vez, que a nossa dificuldade de comunicação, faz que para os outros tudo pareça apenas um jeito “reservado”. E como os sentimentos não “saem”, eles nos implodem. Não sendo raro, pessoas com essa personalidade serem autodestrutivas: indiretamente pelo uso de drogas/ álcool ou diretamente através do suicídio. Não é fácil sobreviver em uma ilha, nascemos para viver em sociedade.

Eu tive sorte, me deparei com a arte. Ela virou a minha droga. Através dela, encontrei um caminho de expressão e fuga desse cárcere chamado “corpo”. Sim, para portadores de T.A.S., o corpo é um rigoroso presídio que controla não apenas a oralidade, mas a espontaneidade do comportamento. E como todo presidiário, não recebemos muitas visitas.

Alguns caminhos, além da arte, me ajudaram até aqui e espero que possam ser úteis não apenas para quem vivencia esse “sentimento”, mas para quem convive com alguém assim.

A terapia, sem dúvida, é fundamental. Quando estamos sozinhos dentro de nós, nossas percepções são parciais, mas acompanhados, somos levados a descobrir caminhos, possibilidades e ver novos horizontes. Além do profissional capacitado ser como um cirurgião, com a técnica apropriada de intervenção, apesar das limitações do “paciente”.

Em alguns casos, dependendo do nível de ansiedade social, o uso de medicações prescritas é recomendado. Se o foco está na tentativa de controlar o corpo, certamente, perdemos as rédeas dos nossos pensamentos. Assim, acalmar a tensão do corpo, permite uma manifestação mais livre.

Grupos de autoajuda embora escassos (inclusive nas redes sociais), são um grande auxílio. Identificar pessoas com o mesmo problema, ajuda na constante sensação de estarmos sozinhos nele. Assim, como naturalmente, costuma ocorrer um recíproco apoio e incentivo. Como disse antes, ninguém nasce para viver só e é sempre bom, encontrar pessoas que entendam nosso “idioma”.

Fazer um diário é algo positivo. Precisamos falar mesmo que sejamos nosso divã e terapeuta. Os sentimentos precisam sair para que não se voltem contra nós. Escreva do jeito que conseguir, mas não marginalize o que pensa ao inconsciente. Não consegue escrever? Grave um áudio para você mesmo. Torne-se consciente. Tenha coragem de ver fora de você, aquilo que carrega e tudo parecerá mais leve. Lentamente, o caos interior se organiza do lado de fora.

Mesmo sabendo que esse texto será lido por uma minoria, pela extensão e pelo que representa, sinto que é meu dever fazê-lo. Falar por tantas vozes ignoradas e aprisionadas dentro de si. Se ajudar uma única pessoa, terá valido a pena. Além do tempo ter me ensinado, que a nossa cura está dentro do próprio medo. E escrever sem máscara, faz parte da minha automedicação.

Aprendendo uns com os outros, avançamos na compreensão de que precisamos uns dos outros, exatamente do jeito que são. E se você convive com alguém assim, não tema sua reação. Seu problema não é a proximidade, mas a falta dela.