O MILAGRE DE RESPIRAR.

Calor intenso, como eu nunca vi antes, sinto minha face afoguear, sinto o mormaço amolecer o meu corpo inteiro, como se eu estivesse em um forno.

Estamos no final de Setembro, início de primavera, era mesmo para fazer tanto calor assim? Esse tempo maluco me confunde.

No céu, nuvens imóveis, parecem sentinelas nos vigiando, não venta, nem uma brisa sequer. Parece que a natureza finalmente está contra atacando toda a as maldades sofrida, cada mês é uma coisa diferente, não quero nem imaginar o que será de Outubro.

Será mesmo que as pessoas estão preocupadas com o que está acontecendo ao mundo? Da sacada da minha casa é possível ver vários bairros, um amontoado de casas, umas coladas nas outras, centenas de famílias, dos mais variados tipos, culturas, status, enfim, cada casa com sua história, e cada história com suas perdas e ganhos, vilões e heróis, no final, somos todos iguais nesse campo de batalha, nossas famílias são iguais.

Estou em fase de recuperação, sou uma das vítimas de a COVID-19, não sei ao certo como peguei, isso também não importa. Foi que a médica me disse quando relatei que no meu trabalho havia pessoas que tiveram o vírus, ela disse: " Isso já não faz diferença, chegamos a um ponto que você pode pegar em qualquer lugar, ônibus, caminhando na rua, em qualquer lugar". É mesmo absurdo o ponto em que chegamos, o vírus está por aí, em qualquer esquina, entende o que isso quer dizer, em qualquer esquina.

Nos primeiros dias sofri muito, a falta de ar era horrível, febre indo e vindo, fraqueza, não conseguia dormir. O único medicamento receitado pela médica foi o ( astro ) um comprimido por dia por cinco dias, e Dipirona quando febre. Nos primeiros dias eu ia do quarto ao banheiro, somente isso, isolamento total, minha esposa- coitada - trazia café, almoço e janta na cama, eu de máscara, ela também. Minha filha há duas semanas foi para casa da minha mãe, por segurança. Outra bendita providência que minha esposa tomou foi fazer chás, vários deles, horríveis, quase que intragáveis, porém, de muita eficácia. Dizem que remédio ruim é quem faz efeito, pois passei a dar crédito nesse dito popular, não é que surtiu tremendo efeito, a natureza mais uma vez dando um baile na ciência, não que a ciência esteja em descrédito, ela tem meu respiro, mas, nesse caso, tomou um sacode da natureza com seus remédio naturais.

Sou grato a Deus pela recuperação, sei que muitos não tiveram a sorte que eu estou tendo, é difícil compreender essas coisas, quem fica e quem vai, o que eu posso dizer é que estou aprendendo com tudo isso.

A vida não é somente correr atrás de uma cédula de papel, não é o 'ter', e sim o 'ser', mesmo quando não se tem, ser melhor do ter o melhor. Do que adiantou o meu carro na garagem, minha casa própria, minha conta bancária se nada disso pode me comprar a única coisa que Deus nos dá gratuitamente, o ar para respirar.

É manhã de domingo, minha esposa fez o meu café, logo após saboreá-lo, termino de escrever essa crônica, respiro bem fundo, sinto o ar livre nos meus pulmões, não sei quantas pessoas pousaram os olhos nessa crônica, mas seja lá quem for… pare por uns minutos, agradeça a Deus pela vida, pelo ar que você respira. Que Deus abençoe a todos.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 04/10/2020
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