Como é Deus?
Casos do cotidiano cristão
Dois irmãos e ambos crentes; o mais velho casado, estabelecido, vasta prole, um homem de bem e acompanhado de sua esposa.
Seu irmão ao contrário: descuidado, sem ambição, solteiro, devagar, morador de rua, necessitado, carente e dissimulado.
Habitantes de uma das cidades Goianas, onde os lotes sempre grandes e cheios de árvores frutíferas.
O mais velho com sua esposa, oferecem um espaço e deixam o mais novo preparar um abrigo para que, com certo conforto, em noites/dias frios, acalentassem seu corpo sofrido; no canto esquerdo e final do lote.
O almoço todos os dias lhe era ofertado pela família; seu irmão designou uma das filhas menor, que se apresentava com o prato preparado.
Inicialmente a menina retornava em pouco tempo gasto.
À medida que os meses passavam, o tempo usado era acrescido sem que houvesse necessidade aparente.
Por outra, este irmão fora ganhando a confiança do obreiro e esposa, que presidiam a igreja local, com seu labor em manter a limpeza, ordem, cuidado com os utensílios/vasos de uso litúrgicos e seu mobiliário.
Ofereceu e foi aceito também, para dar manutenção e vigilância na casa pastoral, sobretudo na ausência dos prelados.
E assim o tempo passou, a igreja encheu de fiéis e os sobrinhos cresceram.
Os membros e congregados, juntamente com o corpo ministerial, não imaginavam como seria o desfecho dos pecados cometidos por este irmão incauto.
Haja vista a gravidade, envolvimento e circunstancias de um deles.
Mas ninguém sabia ou desconfiava.
Este irmão agora doente, internado já por algum tempo, não lograva melhora em seu quadro clínico.
Embora nas consagrações da tarde, e em varias delas, eram implorados os clamores dirigidos a esta causa.
O moribundo agora gemendo e a oração da tarde já ao final, eis que rompe um profeta:
--- para que todos saibam: àquele que geme está posto o machado, o tal deve confessar para que morra.
Um trio de obreiros radicais e oportunos; liderados pelo 1º vice, convoca reunião extraordinária, exige a presença pastor presidente e impõem a exclusão do enfermo.
O presidente após caloroso debate, aceita com condição:
--- será excluído e você 1º vice, manterá vigília à cabeceira daquele, caso indo a óbito e antes disto, o recoloque em comunhão.
--- Alto lá, o pecado dele é grave e tem que ser excluído.
É a jurisprudência do local e acompanhada por outros obreiros presentes.
Nestes dias a igreja entrou em polvorosa: o reclamo, as críticas, o disse, não disse, as conjecturas, etc.
As consagrações agora repletas e de novo uma voz profética: --- Deus ordena à missionária Maria José o ato de ir ao hospital e colher a confissão para óbito.
Neste dia a missionária não se fazia presente, mas o ocorrido lhe chegou ao conhecimento e, sem dar crédito e se fazendo de Jonas, busca sair de cena e compra passagem via terrestre para Goiânia de modo a visitar uma de suas filhas.
Sem aviso e ao final da tarde chega ao endereço que, pela surpresa, é bem recebida, inclusive pelos netos, uma alegria só.
Desmonta a bagagem, põe-se a atualizar as ultimas, brinca, saboreia o jantar, conversa vai e vem, o tempo voa e o sono reclama que a noite já está na 3ª vigília.
Ao deitar a missionária tem uma surpresa:
--- volta, pois o esquálido não tem mais tempo e só você colherá a confissão.
Surdina da madrugada, a arrependida missionária põe-se a montar a bagagem.
Nas pontas dos pés idealiza a volta, o retorno, e sem aviso para a filha e netos.
Ainda no caminho e dentro do ônibus, pede perdão e agradece a Deus pela sua vida e dádiva dos céus. Agrega sua filha e netos ao mesmo espectro.
Esta volta foi mais demorada, já de noite chega ao terminal de Ipameri e, mesmo antes do veículo parar, estando de pés, empreende a saída que, já do lado de fora, ela vê o referido envolto aos trajes hospitalares e apressado para a confissão.
Ouviu nos mínimos detalhes, pois a morte nesta ceifa jazia em atraso.