Bésame mucho, Consuelo!

Esta semana, em meio a descanso extra provocado pela Pandemia, remexo os guardados para limpeza física e mental. O montão de papéis incomoda e faz-me perguntas a toda hora: “para onde iremos, papá? ” Não respondo, não quero alarmá-los, por enquanto. Alguns vão mesmo é para o lixo, uns poucos terão destino mais nobre.

Nessa azáfama, encontro manuscritos ou textos antigos, alguns com pequena, outros necessitando enorme edição. Um deles foi a versão do “Bésame Mucho”, que fiz quando estudava italiano na Faculdade de Letras da UFMG, em Belo Horizonte, no começo da década de 1970. Antes de qualquer pergunta, respondo que não tenho qualquer ascendência italiana, pelo menos comprovável. Digo isso porque fiz minha árvore genealógica até o começo dos anos 1800 e não vi pista nenhuma de parentesco com o pessoal da Bota. A razão disso é por ter-me encantado com esse idioma pelo sucesso das músicas italianas nas décadas de 1960 e 1970, começando por “Io che amo solo te”, do meu ídolo eterno, músico e poeta, Sérgio Endrigo.

Mas o fato de gostar do idioma, foi sempre causa de indagações. Minha resposta vinha sempre com alguma piadinha, uma delas era: "nem cruzeirense eu sou", referindo-me ao Cruzeiro Esporte Clube, de Belo Horizonte, uma vez chamado Palestra Itália, sabidamente clube da colônia italiana na capital mineira. Aliás, capítulo à parte, a derrocada do Cruzeiro a partir de 2017 é incrível, assusta. Quem poderia imaginar isso? Até aonde irá? Será que os rivais não percebem que estão criando a “pax romana” dos campos arrasados? Alfa não vive sem Ômega. Ninguém chuta cachorro morto. Mas isso é outra história na qual nós, americanos, não devemos nos meter.

Voltemos ao “Bésame Mucho”: ao publicar no começo da semana a minha versão no Recanto das Letras, me lembrei da obrigação de colocar os créditos. Não sabia ou não me lembrava de quem tinha composto “Bésame Mucho”, canção popular ícone do Século XX. E toca a dar um Google. Encontro rapidamente o que procuro: “Consuelo Velázquez, compositora mexicana, falecida aos 88 anos em 2005”.

Poderia ter parado por aí, era suficiente, mas não. A matéria da Wikipédia – já avisando de antemão que as fontes não são confiáveis – se estende bem ao estilo das comadres e fofocas e especula maliciosamente - assim captei - a motivação e o background da moçoila ao escrever a letra. A Wikipédia, além de se estender, surpreende, acrescentando: “A canção, com um ar erótico, deu origem a um mito: o de que Consuelito a teria composto antes do seu primeiro beijo, só por inspiração poética. Seria certo? Que se esconde detrás de “Bésame Mucho”? O que fez dessa peça uma canção tão emblemática? ”

Daí pra frente, não pude parar de puxar links e mais links. De todos, sugiro acompanharem essa interessantíssima análise da letra no link abaixo, de onde Gustavo Conde retira um monte de coelhos de uma cartola, digamos, “psicossemiótica”, se é que me entendem:

https://jornalggn.com.br/cronica/os-sentidos-da-cancao-besame-mucho-de-consuelo-velasquez-por-gustavo-conde/

Bom, superinteressante, Gustavo Conde. Pois eu não teria pensado por esse lado nem iria tão profundamente à caça das motivações dos beijos de Consuelo. Quantas vezes dancei ao ritmo desse bolero incrível, em baile de debutante, festa de formatura, casamento. Não importava a versão, fosse a pasteurizada de Ray Coniff, fosse a comportada de Nat King Cole, a moderna de Luiz Miguel, a clássica de Andrea Bocceli, ou ao ritmo de rock dos Beatles. Conheci até a versão apócrifa de meus primos de Belo Horizonte, Marco Antônio de Souza na vanguarda – o “Beija meu mucho”.

Antes de postar minha versão italiana dessa letra, o “Baciami Molto”, ouvi versões em francês, grego, inglês e no próprio italiano, talvez para não me considerar muito atrevido. Contudo, segundo nossa querida escritora e professora poliglota, Luna Mia, figura de relevo no site Recanto das Letras, “a sua está quase tão boa quanto o original”. Obrigado pela força, mas você está comparando minha versão com a de Consuelito Velázquez, sendo que a criação da mexicana já superou muitas décadas e os beijos trocados e inspirados por essa letra nesse tempo todo – vide o que diz Gustavo Conde – não dão margem a qualquer comparação. Mas vamos continuar beijando "muuuuuito", por ora virtualmente, não se precipitem.

William Santiago
Enviado por William Santiago em 02/10/2020
Reeditado em 18/12/2022
Código do texto: T7077410
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