Todo mundo da minha época tinha uma namorada, o que não era novidade. Era regra geral na Cachoeiro dos anos 60. Não me interessa como é hoje por lá. Mas a minha, vez ou outra, esquecia quem eu representava para ela e me dispensava “pour um moment”. Lembro-me em que duas vezes essa ocorrência foi séria e mais longa. A primeira, aparadas as arestas, “comme il faut”, teve volta. A segunda, bem, essa não deu margem para negociação. Assim, somente aquela teve a ver com o caso de que se cuida, objeto do título em epígrafe (copiado de uma de minhas petições jurídicas). Pois bem, durante a minha folga sentimental, encantei-me por uma sílfide cachoeirona, de tez extremamente alva e olhar negro de gazela assustada, compondo uma silhueta plástica de beleza ímpar em sua singeleza. Dir-se-ia um bibelô de louça a quem cujo toque exigia cuidados de anjo ou semelhante. Muitas vezes, dançando nos Caçadores, em saudosas “happy hours”, um ou outro suspiro em meu ouvido me assustava, com receio de meus braços a feriam ao enlaçar-lhe a cintura. Mãos dadas, ligeiros “selinhos”, discretos e matreiros olhares, era o limite permitido para os namoros iniciais de então. Maiores aconchegos demandariam mais tempo, o que, diga-se logo, eu já estava disposto a conceder com prazer e gosto. Uma verdadeira “Era da Inocência.” Dividi meu momento com minha mãe e os encômios que ela teceu sobre a sílfide nativa, de seu conhecimento (minha mãe conhecia todas e todos que passaram ou passavam pelo Liceu), me deixou assustado. Era um bronco com uma finíssima porcelana nas mãos. Enfim, aval de mãe é “phoda”, tem peso e consistência, “bora tocar prá frente”. Então, num belo fim de tarde julina, ao saíamos de uma sessão no cacique (não falo qual filme), tomei a decisão de levá-la até sua casa. Até então isso não havia acontecido, embora o “affair” já passara dos dois meses (por favor, poupem-me das razões e dos porquês). Tomamos o rumo do Aquidaban (isso basta). Em chegando à casa, observei que era cercada por um muro que abrigava uma área verde. Tive a impressão de que havia flores plantadas, nunca estive certo disso. Certo mesmo é que havia uma pessoa se movimentando sobre o gramado e a súbita e inesperada pressa do meu bibelô em se despedir de mim. Entre atônito e divertido ouvi sua voz dizendo: “- oi mãe, está aguando as plantas?” Ao que a honorável senhora respondeu: “-Estou. E você? É esse BICO DOCE que está namorando”. Nunca entendi a razão dessa alcunha. Paciência. Depois, o encanto quebrou-se, o caldo entornou e as coisas retomaram seus lugares comuns de sempre. Quanto a mim? Bem, estava ascendendo à titularidade do time principal do Estrela, logo, havia coisas mais importantes com as quais me ocupar.
Todo mundo da minha época tinha uma namorada, o que não era novidade. Era regra geral na Cachoeiro dos anos 60. Não me interessa como é hoje por lá. Mas a minha, vez ou outra, esquecia quem eu representava para ela e me dispensava “pour um moment”. Lembro-me em que duas vezes essa ocorrência foi séria e mais longa. A primeira, aparadas as arestas, “comme il faut”, teve volta. A segunda, bem, essa não deu margem para negociação. Assim, somente aquela teve a ver com o caso de que se cuida, objeto do título em epígrafe (copiado de uma de minhas petições jurídicas). Pois bem, durante a minha folga sentimental, encantei-me por uma sílfide cachoeirona, de tez extremamente alva e olhar negro de gazela assustada, compondo uma silhueta plástica de beleza ímpar em sua singeleza. Dir-se-ia um bibelô de louça a quem cujo toque exigia cuidados de anjo ou semelhante. Muitas vezes, dançando nos Caçadores, em saudosas “happy hours”, um ou outro suspiro em meu ouvido me assustava, com receio de meus braços a feriam ao enlaçar-lhe a cintura. Mãos dadas, ligeiros “selinhos”, discretos e matreiros olhares, era o limite permitido para os namoros iniciais de então. Maiores aconchegos demandariam mais tempo, o que, diga-se logo, eu já estava disposto a conceder com prazer e gosto. Uma verdadeira “Era da Inocência.” Dividi meu momento com minha mãe e os encômios que ela teceu sobre a sílfide nativa, de seu conhecimento (minha mãe conhecia todas e todos que passaram ou passavam pelo Liceu), me deixou assustado. Era um bronco com uma finíssima porcelana nas mãos. Enfim, aval de mãe é “phoda”, tem peso e consistência, “bora tocar prá frente”. Então, num belo fim de tarde julina, ao saíamos de uma sessão no cacique (não falo qual filme), tomei a decisão de levá-la até sua casa. Até então isso não havia acontecido, embora o “affair” já passara dos dois meses (por favor, poupem-me das razões e dos porquês). Tomamos o rumo do Aquidaban (isso basta). Em chegando à casa, observei que era cercada por um muro que abrigava uma área verde. Tive a impressão de que havia flores plantadas, nunca estive certo disso. Certo mesmo é que havia uma pessoa se movimentando sobre o gramado e a súbita e inesperada pressa do meu bibelô em se despedir de mim. Entre atônito e divertido ouvi sua voz dizendo: “- oi mãe, está aguando as plantas?” Ao que a honorável senhora respondeu: “-Estou. E você? É esse BICO DOCE que está namorando”. Nunca entendi a razão dessa alcunha. Paciência. Depois, o encanto quebrou-se, o caldo entornou e as coisas retomaram seus lugares comuns de sempre. Quanto a mim? Bem, estava ascendendo à titularidade do time principal do Estrela, logo, havia coisas mais importantes com as quais me ocupar.