Bio-Eletricidade
(Hélio da Rosa Machado)
Sem perceber que nossa vida está fundamentada em impulsos elétricos, fazemos do nosso dia-a-dia um caminho iluminado pela presença de um fator intrínseco de necessidades básicas, a ponto de não temermos a proximidade da escuridão da noite, porque o simples acionar de plug trará a luminosidade necessária para os olhos, sem contar com a parafernália eletrônica que nos rodeia, dando-nos comodidade e bem-estar.
A reflexão nem sempre provém de um ato ordinário vivido no compasso dos dias, tendo em vista que nossa cultura não nos permite enxergar além daquilo que nos é ensinado pela vida contemporânea e experimental, sem que venhamos buscar a origem daquilo que nos cerca. É um erro que devemos corrigir.
A energia elétrica se traduz hoje num enfoque cultural, posto que necessária em cada residência, em cada fábrica, em cada ponto comercial, mas depende de um estudo da biosfera global, podendo a ser transformar com o tempo, principalmente quanto à sua origem, considerando que não temos mais condições de agredir o meio ambiente para podermos manter o peso das usinas elétricas que causam terríveis transformações no meio ambiente.
Não é de hoje que os mananciais dos rios vão se esgotando pela interferência do progresso. Cada um de nós reserva na lembrança aquele riozinho que servia de aconchego para espantar um dia de muito calor, ao banhar-se em suas águas cristalinas e puras. Passados alguns anos - algumas décadas – não sobra muita coisa para ser contemporizada. Tudo virou areia – o leito secou.
Lembro-me de minha cidade interiorana – Amambai e do seu glorioso rio Panduí, onde corriam águas fartas, a ponto de ser instalada uma usina que chegou a gerar energia elétrica. Evidente que estamos tratando de um evento do passado que está apenas na lembrança. Hoje, esse rio (objeto de lembrança) transformou-se num rego d’água que ao ser visto por algum novato na cidade jamais imaginará que ali já correram águas abundantes.
Podemos avaliar a dimensão do problema, por este pequeno exemplo – que não é isolado. O nosso País conta com um sistema elétrico mantido pelos rios, que já não são os mesmos de outrora porque dependem de seus mananciais e afluentes. Não se pode culpar exclusivamente a falta de chuva, como causa básica e única para a diminuição do nível das represas. A questão a meu ver é mais grave. Deve-se observar com maior preocupação o impacto ambiental causado por determinadas fontes de progresso. Nesse aspecto, penso que a agricultura executada de forma dinâmica e sem barreiras restritivas, através das grandes plantações vivenciadas há algumas décadas, tem contribuído sobremaneira para a destruição dos mananciais.
As leis de proteção ambiental que vigoram em nosso País são incapazes de abrandar o problema, já que podem salvar pequena parte da flora e da fauna (refiro-me à manutenção de pequenas glebas que não podem ser desmatadas em cada propriedade), mas essa providência apenas não socorre a natureza em razão da vastidão do solo que será utilizado para a agricultura. Da mesma forma, não protegem os mananciais a proibição de desmatamento ao largo dos rios, quando sabemos que em certos casos, a área devastada na época das chuvas, causa os escoamento de dejetos para dentro dos rios em quantidade insuportável, como é o caso da areia causando erosão, desviando o curso natural, como também de agrotóxicos que geram mortandade dos seres vivos que estão naquele habitat.
A preocupação com essa questão torna-se ainda mais grave (à longo prazo) a partir do momento em que vislumbramos o esgotamento dos lençóis freáticos que nos fornecem água potável. Evidente que esse problema também deve ser encarado com responsabilidade e com muito estudo por todos nós, até porque os lençóis que sabemos existir correm riscos de serem contaminados.
A questão é deveras preocupante. Nós - as pessoas conscientes - temos de estar atentos quanto à devastação sistemática da natureza porque ela se constitui em elemento essencial à nossa vida, por isso, como cidadãos, devemos estar alerta para a degradação vivenciada aos quatro cantos do País. Devemos nos preparar culturalmente para encararmos esse mal, fazendo engajamento para que possamos formar um contingente expressivo de pessoas que passem a defender a natureza, pois só assim estaremos salvando não só o nosso País como o nosso Planeta.