ESCUTO O SILÊNCIO
Escuto o silêncio.
É o suficiente para mim, nesta noite.
Preciso de paz, de sossego e, principalmente, de me sentir.
Por inteiro.
Dá para ver o rio que é a minha vida.
Este rio está seguindo para uma cachoeira.
Vai desaguar não sei onde, mas depois da queda vem a calmaria
Espero.
Preciso desaguar tantas coisas que acho que meu rio vai precisar desaguar mais de uma vez.
Preciso, às vezes, me renovar, limpar o rio poluído que é a minha vida. Isto deve ser feito por mim e por mais ninguém.
Um psiquiatra vai me ouvir, diagnosticar e medicar.
O remédio só será um paliativo para a poluição que está dentro de mim.
Um psicólogo vai me ouvir, aconselhar.
Mas não pode fazer o trabalho de limpeza total.
Esta limpeza tem que ser feita agora, urgentemente e por mim.
Preciso de uma vida nova, limpa, clara e saudável.
Meu corpo já tão gasto não há o que fazer.
Mas a minha alma precisa de mais atenção.
Preciso limpá-la.
É difícil porque tenho que jogar fora muita raiva, muito ódio, muita mágoa acumulada.
São tantos sentimentos que me levaram a chegar onde cheguei.
O corpo não tem muito o que fazer.
Nem quero – talvez !
Quero envelhecer naturalmente, pelo menos isso eu tenho que fazer.
Envelhecer naturalmente.
Mas a alma, esta preciso urgentemente tratar, pois é ela que vai sobreviver quando o meu corpo acabar.
Nisso acredito.
A alma é eterna.