Amarcord (eu me lembro)

SENTADO na cadeira de balanço lembrou do menino virando adolescente e do adolescente virando adulto, mas sem jamais, após essa travessia,deixar de ser o menino de calças curtas. Podia estar com os cabelos embranquecidos,cansado de guerra, meio bambo, vestido roupas de adulto, mas continuava sendo o mesmo menino. O sentimento do menino sempre prevalecia em qualquer ocasião, era esse menino que balizava suas posições, reações e emoções. Na verdade, riu e pensou, somos apenas o moleque de rua do passado, com uma bola de meia, de borracha, bolas de gude,piões, pipas. pés descalços e sempre fazendo armações. A vida podia alterar um poco as pessoas e impingir um tipo de cultura, mas não deletava jamais a alma do menino que havia em cada pessoa. O menino era a alama do adulto. Era o artista principal do show da vida.

Sabia que a maturidade era apenas o amadurecimento do menino. Mas isso não apagava a memória. Lembrou oque dizia um professor de sua terra: "O homem é o tempo e saudade, o importante são as raízes, o que o segura é a memória".

Da cadeira de balanço olhou para um retrato na parede: era o retrato de um menino de calças curtas sentado numa cadeira de vime. Um meninode cara amarrada, mas um menino feliz. Um menino que, apesar das suas limitações e doos poucos recursos financeiro dos pais, se julgava um nobre porque toda criança, independentemente da condição financeira da sua família, é um nobre. A criança é responsável pelo equilíbrio do adulto.

Levantou e botou um velho disco na radiola e a voz de Ataulfo Alves cantou: "Eu daria tudo que tivesse para voltar aos tempos de criança/Eu não sei porque éque a gente cresce/ se não da gente essa lembrança...". O homem disse baixinho, lembrando o filme de Fellini, "Amarcord". E ainda rindo, afirmou de si para consigo mesmo: Euera feliz e não sabia. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 30/09/2020
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