A questão: São os direitos ou os privilégios?

Estava sentada num banco de cimento no metrô esperando o próximo trem, quando percebo alguém me encarando, ela com seu uniforme azul, botas brancas e eu com meu uniforme amarelo. A percebi olhando diversas vezes para mim, eu fiquei um pouco incomodada, então tratei de fixar meu olhar para um lugar qualquer, talvez me conhecesse e eu não estava me lembrando. Estavam comigo nesse banco uma senhora de uns 60 e poucos anos, um adolescente e um gari. Já passava das seis da tarde e a única coisa que eu queria era chegar em casa. O dia não tinha sido dos melhores, hoje tinha sido jornada dupla, eu havia saído de casa por volta das 5 e 30 da manhã. Vem o trem, mas não era o meu, vão embora o adolescente e o gari, a moça então senta-se ao lado da senhora. Até ali tudo bem, nos três estávamos ali, três mulheres, não houve nenhuma interação, apenas alguma reclamação qualquer relaciona ao atraso do trem, quantas horas eram, nada demais.

A conversa começou a se desenvolver quando a senhora partiu no próximo trem. E a moça chegou mais perto e me fez a primeira pergunta: - Tem muito tempo que você trabalha nesse lugar? Tem dois anos, respondi. Você conhece? E ela apenas disse que sim. E foi então que as outras perguntas vieram, na verdade não foram perguntas propriamente, foram alguns comentários: - vocês não são diferentes dos políticos. Eu olhei com curiosidade, não disse nada e ela continuou: - Só reclamam e são uns dos que mais tem privilégios, porque a questão é essa, não são os direitos e sim os privilégios. Eu fiquei sem palavras, o que ela queria dizer com aquilo? A que tipo de privilégios ela se referia? Houve uma pausa longa, então eu resolvi perguntar: - E quais seriam esses privilégios? Ela se virou, ficou bem de frente para mim, olhou no fundo dos meus olhos e soltou: - Eu feri o seu ego? É só isso que vocês têm. Veio o próximo trem e ela se foi sem me esclarecer.