Relembranças
            de um peregrino


                    Alzati e cammina - Levante-se e                     caminha
                                   Francisco de Assis

     1. Estamos em plena "Semana franciscana". Por isso, nunca é fora de propósito escrever sobre São Francisco de Assis. No dia 3 de outubro de 2020 ele fará 794 anos de morto. A Igreja o homenageia no dia 4 de outubro, dia do seu sepultamento e eu nunca soube por quê. A Igreja Católica festeja seus santos - menos São João Batista - no dia em que eles morreram.
     2. Minha mensagem, que chamo de relembranças de um peregrino, vai para aqueles que pretendem visitar Assis, a terra do Poverello, no coração da Úmbria, bonita região da encantadora Itália. Lá estive, com Ivone, duas vezes. Em ambas as vezes, menos como um turista curioso e mais como um peregrino, romeiro de São Francisco.
     3. Tanto na primeira como na segunda visita, foi indescritível minha emoção ao chegar a Assis. Nos primeiros momentos, não quis acreditar que estava pisando no chão que vira nascer o querido santo dos pobres. O chão que vira os dois Franciscos: o Francisco boêmio e o Francisco convertido. O chão que também vira nascer Santa Clara, a freirinha que amou Francisco e foi plenamente correspondida.
     4. Emocionado mesmo - e aqui vai minha mensagem - fiquei em quatro momentos: ao visitar a casa onde Francisco nasceu, em 1181 ou 1182; ao ver de perto o crucifixo de São Damião, o crucifixo que mudou a vida de Francisco; a igrejinha da Porciúncula, onde nasceu a Ordem Franciscana; e a capelinha que guarda os restos mortais do maior santo da Igreja Católica. 
     5. Diante da tumba do Poverello, modestíssima, por sinal, me fiz esta pergunta: será que os restos mortais de Francisco estão mesmo naquela urna? E depois: como duvidar se, há séculos, eles estão ali sem que ninguém tenha ousado tocá-los. Ajoelhei-me; não para pedir, mas para agradecer. 
     6. Numa das ruelas da medieval Assis está a casa onde nasceu Francisco. De repente o romeiro, o peregrino dá de cara com ela. E a reconhece fácil porque lê, em belíssimo italiano, o seguinte: "Desça as escadas e você encontrará a casa onde nasceu Francisco, o pobrezinho". A gente se surpreende com a simplidade da casa do Poverello, filho de um pai muito rico.
     7. Prossegue-se na rua íngreme, e no seu final chega-se à basílica de Santa Clara. Nessa basílica a gente encontra o crucifixo de São Damião, o crucifixo que falou com São Francisco, tirando-o, para sempre, da vida profana, com a rapaziada de Assis. Nessa basílica, está, também, o corpo de Santa Clara. Tentei vê-lo. Não consegui porque a igreja, danificada por um terremoto, estava em obras.
     8. Na igreja superior, a principal igreja franciscana de Assis, a gente leva horas admirando os quadros do pintor Giotto e de seu mestre, o extraordinário Zimbabwe. São enormes afrescos contando a vida do Pobrezinho. E vi, que na bela basílica está o retrato que mais se parece com Francisco - um frade feio e baixinho - pintado por Zimbabwe.  
     9. Vale visitar a sala onde estão expostas as relíquias do santo. A gente conhece o hábito, o burel que Francisco usou. Que simplicidade! Rústico, remendado, grosseiro. Andando um pouquinho, está, no original, a Regra da Ordem dos Frades Menores escrita por Francisco e aprovada pelo Papa Honório III. 
     10. Por último, dei um pulinho na igrejinha da Porciúncula, onde Francisco fundou a Ordem e morreu. Chocou-me um pouco vê-la erguida no interior da rica basílica papal de Santa Maria degli Angeli, construída no sopé da colina do monte Subásio. Um contraste flagrante. Não sei se Francisco ia gostar... Quando volto a Assis?Só Deus sabe.       
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 30/09/2020
Reeditado em 30/09/2020
Código do texto: T7075904
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