Calor

Ela se esticava sob o sol na varanda, de biquíni, deitada de bruços.

O calor era quase palpável.

Uma gota de suor escorreu de suas costas e logo despareceu da minha vista.

Ela me olhou de lado e sorriu, ao ver que eu estava lhe observando.

- Onde você estava? – Perguntei.

- Como assim?

- Onde você estava esse tempo todo? – Insisti.

- Não estou entendendo, meu bem. – Ela se virou e ficou de lado para mim, e tomou um gole de cerveja enquanto eu ruminava minha resposta.

Fiquei calado olhando pra ela. Acho que ela nunca tinha estado tão linda quanto naquele momento. Ou talvez fosse só um tipo de viés de começo de relacionamento. Não dava pra saber ainda.

- Às vezes eu me pergunto onde você estava no mundo esse tempo todo que eu andei perdido por ai. E se teria feito diferença ter te encontrado antes.

Ela deu um sorriso e encostou a cerveja de lado.

- Você filosofa demais, meu bem. O que importa é que eu estou aqui. E que você também está. O que importa é viver o momento em que estamos. Qualquer coisa, além disso, é desperdício.

- Me disseram que eu te encontraria... Ano passado... Antes mesmo que eu tivesse te conhecido.

- E você acreditou?

- Não sei dizer. Mas tive esperança.

Ela mordeu os lábios e virou de costas novamente.

- E se não tivesse acontecido? – Ela perguntou.

- Eu continuaria com minha vida do jeito que estava antes.

- E o que mudou?

Deitei do lado dela, de barriga pra cima, tapando os olhos com as mãos por causa do sol.

- Tudo... e ao mesmo tempo quase nada.

- Você é sempre tão confuso com suas respostas.

- Tipo... Mudou tudo, mas ao mesmo tempo eu não precisei mudar quase nada pra estar com você. É isso.

Ela não respondeu. E depois de um instante de contemplação, se deitou por cima de mim e me beijou com a intensidade que eu já estava acostumado vindo dela.

Então paramos e ficamos os dois com as respirações sincronizadas e com os lábios grudados.

Ela era prova de que tudo podia ser simples e sincero.

Talvez eu precisasse ter errado o tanto que errei, e me perdido o tanto que me perdi, para me ver ali, completamente entregue nos braços dela, Achado...

Se o mundo era oceano, com ela eu tinha finalmente, os pés em terra firme.

Ela afastou a parte do biquíni e me colocou para dentro.

Senti o calor... O sol não chegava nem perto dela.

Me perdi na sensação e no pensamento, enfim...

Pensar era desperdício...

Qualquer coisa além de nós dois era desperdício.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 28/09/2020
Reeditado em 28/09/2020
Código do texto: T7074045
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