Uma busca incansável
Eu sempre gostei de leitura, desde muito cedo. Assim como sempre gostei de brincar de escrever. Tenho a lembrança da terceira série do hoje chamado de ensino fundamental onde a professora pedia para a sala escrever alguma frase e escrevia várias. O grande poeta português, Fernando Pessoa disse uma vez que escrever é a maneira dele ser solitário. Eu que nunca precisei de esforço algum para isso, faço dessa arte minha busca incansável de me conectar às pessoas. O que, vamos combinar, não é algo fácil. Ou como diria um amigo de escola, não é bolinho não.
Devo dizer que, embora seja uma busca da qual não abro mão, não é uma busca desesperada. Não na maioria das vezes pelo menos. Para quem gosta de frases de efeito, se há beleza no caos, com mais certeza ainda existe poesia na solidão. Até porque a vida, que não uma sucessão de atos sem sentidos, é uma grande e magnífica obra de arte.
Mas nem todo mundo se sensibiliza diante de uma poesia de Victor Hugo, por exemplo. "Desejo, com a máxima urgência, acima e a despeito de tudo, que descubra que existem infelizes, oprimidos e injustiçados. E que estão a sua volta." Um simples parágrafo de uma profundidade fantástica. De uma lição que nunca foi tão atual, mas que nem sempre queremos assimilar. Por que a sensibilidade dá prazer, mas também dói. E dói bastante.
E aí, muitos escolhem fechar sua alma e criar um mundo próprio, onde não existe dor. Onde ser uma pessoa positiva e ignorá-la. Mas onde a alegria é artificial. E é por essa razão que o dito popular acima, há beleza no caos, é verdadeiro. Não é possível a ninguém que esteja num estado diferente do chamado de psicopatia ou de sadismo, ficar feliz pela dor alheia. Mas ela existe, isso é fato. E ela é uma oportunidade para mostrarmos o que nos faz humanos, mostrar a nossa capacidade de amar.
E por isso minha busca incansável, e para muitos insana, de me ligar às pessoas. uma tentativa leve e espontânea, sem pressa e sem pressão. Porque o amor não é uma algema. É talvez um estender as mãos, um convite a caminhar na mesma direção.
Mas uma busca infatigável, talvez pela compreensão de que precisamos tanto uns dos outros. E que podemos de tantas formas ser úteis uns aos outros. De formas que nem imaginávamos, muitas vezes silenciosas, e que vamos descobrir somente enquanto nos permitimos a dor da aproximação. A dor da lapidação.
Que ninguém se precipite no sentidos dessas palavras e pense que é necessário buscar ou alimentar relações extremamente conflituosas. As palavras também tem corpo e alma. e para entendê-las é preciso buscar a essência. É preciso, diante das relações, saber respeitar nossos próprios limites. É preciso descansar diante de jornadas muito longas. Respirar fundo e renovar as forças. Tudo que temos que passar virá até nós no momento exato. Já como iremos lidar com isso é uma questão que nos compete. Toda escolha em nossa caminhada é uma questão que somente a nós mesmos compete.
Mas penso que seja mesmo, as relações humanas, um não eterno, mas de longo tempo, de um tempo extremamente longo, bate e assopra. Afasta e aproxima. Penso, eu que gosto e desgosto. Que quero e não quero. Que vou e fujo. Que gosto de multidão e também de ficar só.