Uma da Marlene

A Marlene, leitores, é uma grande amiga minha. Amiga de infância. Teóloga e psicóloga de formação, antropóloga de vocação. Ela pensa muito na condição humana e preza pela dignidade do indivíduo, seja ele rico, pobre, analfabeto ou com doutorado na baixa da égua. Todos temos direito a ser respeitados, incondicionalmente.

Estávamos hoje conversando sobre isso, e também sobre as diferenças culturais. Quando um estrangeiro vem para o Brasil, é bem recebido, fazemos questão de acolhê-lo com cordialidade. Mas quando nós vamos para os países deles, somos estrangeiros e, muitas vezes, humilhados. Foi o que ocorreu com a minha amiga. Certa feita, em Lisboa, ela estava de passagem com um amigo, entre Itália e Brasil. Apreciando a beleza da cidade, a Marlene parou em uma loja de lembrancinhas, os "souvenires" e gostou de uma camiseta, porém queria de determinada cor. E perguntou à vendedora se só tinha camiseta naquelas cores. Ao que a vendedora respondeu:

"Se houvesse em outras cores, estaria na pratlaira."

Oh, rapaz. Pra que. A Marlene ficou envergonhada, injuriada mesmo. E pensou: "ah, imunda, fosse no Ceará, tu ficava ou sem os dentes ou sem a 'pratlaira'. E eu contei outros causos, demos risada e ficamos pensando no quanto o brasileiro é subserviente. Ser europeu, americano, o que seja, não torna um ser humano melhor que nós, também seres humanos. Eu acho até que o brasileiro é mais bem educado, se não nos saberes dos livros mas no trato social. Qualquer sertanejo do oco do pé da serra, se recebe alguém em sua casa, oferece de bom grado, água, comida e pousada. Quanto mais pobre, mais generoso. Mas infelizmente temos também essas pessoas que segregam, dão de sua suposta educação segundo as posses de quem a recebe. Pois para mim, e para a Marlene, todas as pessoas são iguais, não fazemos discriminação. Somos boas? Não, é tão somente a nossa obrigação de gente que vive em sociedade.