CARURU
Ontem foi dia dos Santos Gêmeos, dia de comer caruru.
O quiabo é uma planta africana chamada calulu, daí o nome do famoso prato. Desde cedo, as donas de casa alvoroçadas, cortando os quiabos, (depois de bem lavados e enxutos numa toalha limpa, para secar a baba.) triturando as castanhas, amendoins, cebolas, gengibre, camarões secos, tudo para fazer a comida ao gosto dos ibejis. depois de triturado no pilão, junta-se o quiabo cortadinho bem miúdo e põe-se um pouco do azeite; não se coloca água; quiabos, temperos e azeite postos nas panelas, mexe-se constantemente para não pegar e vai-se acrescentando o dendê, quando necessário. Não esquecer o sal.
Pronto o caruru, arruma-se a mesa, com a separação ritual: o caruru dos meninos, seguindo todos os preceitos; o dos grandes, á vontade. caruru, vatapá, efó, arroz de hauçá, cana cortadinha, farofa de azeite, abará, acarajé, pipoca branca, feijão fradinho, banana frita, cocada puxa, o banquete do santo. a bebida de Cosme é o aluá de abacaxi, feito com a infusão das folhas da fruta, depois de bem lavadas e macerando de um dia para o outro.
então é só degustar essas maravilhas, mas, primeiro que tudo se deve alimentar os meninos: coloca-se uma porção de cada iguaria numa "quartinha” de barro e agradece os benefcios recebidos e/ou pedem-se outros. Deixa-se a comida por três dias, depois recolhe-se a quartinha e joga-se num matinho verde.
Pode-se oferecer a comida dos santos todos os meses do ano, exceto novembro, mês dos eguns.
A mesa dos meninos é um caso á parte, como ensinou Maria de S. Pedro, quituteira de primeira, dona do restaurante que tinha o seu nome, no Mercado Modelo. Dizia D. Maria: Todos os pratos da festa devem estar sob uma pequena mesa: caruru, pipocas, amendoim, farofa de azeite, cana cortadinha, banana frita, arroz branco, abará, abóboras, acarajé, milho branco, coco cortado em pequenos pedaços, galhinha de molho pardo e ovo cozido. Enchia-se uma bacia grande que se punha no chão bastante limpo e forrado. Chamava-se os sete meninos mais jovens; as crianças, entre sete e oito anos abaixavam-se em volta da bacia; As crianças mais velhas e os adultos batiam palmas ritmadas; D. Maria chamava:
-Vem cá, vem cá, Dois - Dois.
Os pequeninos, simbolicamente, mantinham as mãozinhas por cerca de um minuto sobre o caruru, começando, a seguir, todos juntos a jantar. Todos cantam com alegria e entusiasmo, mantendo o ritmo das palmas:
- Eu te dou de comê, Dois - Dois! Eu te dou de bebê, Dois - Dois; os versos são cantados sete vezes, depois, passa-se para outros:
S. Cosme mandou fazer
Uma camisinha azul.
No dia da festa dele
S. Cosme quer caruru.
Vadeia Cosme, vadeia
Vadeia, Cosme, na areia!
Vadeia, Cosme, vadeia,
Vadeia, Cosme, na areia!
Eu tenho pai
Que me dá de comê.
Eu tenho mãe
Que me dá de bebê.
Comido o alimento santo,
Os meninos esperam o sinal para levantar as mãos. Aí começa a festa dos grandes; Voltam às palmas e os cantos: Louvado seja, ó meu Deus
Que Cosme e Damião comeu.
Repete-se três vezes esses versinhos. Depois, os sete meninos e a dona da casa carregam a bacia para dentro da casa.
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Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 27/09/2020
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