Gente feliz é em Paris
Já descrevi na minha última crônica como foi que eu encontrei o livro “As cem melhores crônicas brasileiras”, e, confesso que fiquei um pouquinho surpresa: questão de gosto, nada a ver com qualidade, mesmo porque eu não tenho competência para avaliar, somente uma crítica fundamentada no “gosto por um estilo” e, As cem melhores podem não ser as melhores, mas são boas.
Quando eu digo que um texto é bom é por que ele me despertou para algo mais que uma simples leitura. Ler tem que fazer com que eu me atreva e me aventure em “águas mais profundas” com segurança, uma vez que eu não sei nadar.
Mas voltando às crônicas, “Um casal feliz”, da Danusa Leão, despertou minha curiosidade, não o texto por si mesmo, pois ele só proporciona um “sustentar-se na superfície, e, de costas batendo bem os pés”. Mas o contexto, esse é para levar o leitor brasileiro às mais profundas reflexões: Europa no período entre o natal e o ano novo! Gente, esse período, lá, é frio, é neve, é rena, é papai Noel. Onde exatamente? __ Na cidade luz : Paris, o boulevard St. Germain. E fazendo o que? __ Escolhendo, gastando, comprando.... E comprar nesse sistema que incentiva o consumismo é a mais suprema das hierarquias: ou você obedece ou obedece.
Um casalzinho jovem, apaixonado, fazendo compra e feliz. Como não ser um casal feliz, quando tudo é favorável: jovem e apaixonado? Ah, e eles falavam baixinho... tão embevecidos um com o outro, e chovia uma chuva finiiiiinha. Ele a ajudava a se decidir por uma echarpe. E não, você não leu errado: uma echarpe, aquele lenço largo para se colocar no pescoço, Fiquei pensando, se fosse, aqui no Brasil, um casalzinho, aqui, falando baixinho dentro de uma loja, ignorando a vendedora, pode chamar a polícia: Aí tem.
Gente, a crônica termina com a autora descrevendo a saída do casal apaixonado debaixo de chuva e afirmando que quem acompanhou tudo teve um pequeno aperto no coração e uma vontade inexplicável de chorar. Ora, vontade de chorar me deu quando vi o final e fiquei pensando a importância do contexto: aqui no Brasil, semana passada o marido matou a mulher enforcada com a echarpe. Será que o homem brasileiro sabe que esse lenço é um acessório não é uma arma?
E outra coisa que me obrigou a encher os pulmões e bater bastante os pés para me manter na superfície foi ler que “Em países rico coma a França (...) , uma mulher que ama não faz uma compra dessas ( uma echarpe) sem a companhia do marido. Eu não conheço a terra de madame Pompadour, Mas lá também é século XXI, né?