No mercado

Dia desses fui a um órgão público tratar de um assunto – num bairro daqui, cidade das mangueiras. Pela manhã.

Fui bem tratado, a jovem recepcionista, simpática, deu-me um sorriso, perguntou-me o que eu queria.

Tem alguns deles – serviço público – que deixam a desejar no quesito tratamento digno (ao cidadão).

Nos tratam com indiferença, mau humor. O brasileiro sabe bem disso.

Bem, gostei de ser tratado como cidadão naquela instituição.

Encaminhei meu pleito, tudo OK. Fui embora. Manhã ensolarada, rua movimentada.

Não havia tomado café – ainda. Quase 10 horas. Passei em frente ao mercado do bairro.

Pensei – vou tomar café aí, no mercado. Mercado municipal é logradouro democrático, e muito, bastante.

Pessoas ali, umas perto das outras, simplicidade, nada de etiquetas, frescuras, hipocrisias – nada disso, graças a Deus.

É lugar de pessoas humildes, de gente trabalhadora, a ganhar o pão honestamente.

Atravessei a rua, três pistas. Adentrei. Pequenas lojas – de sapatos, sandálias, roupas, ervas medicinais, lanches – e frutas, tomates, cheiro verde.

E demais coisas que não lembro.

Na passagem dei “bom dia” aos pequenos comerciantes. Cheguei a um boxe – alguns chamam de barraca.

A vendedora, uma mulher não tão jovem – nem, digamos, tão idosa, sentada.

----- Bom dia, disse eu – me faça um pão com ovo e café. Vai demorar?

Ela: ----- Bom dia. Bem, demora um pouco, mas não tanto. Pôs a frigideira no fogo...

Sentei-me. Não havia nenhum cliente naquele momento.

Eu, ali, a pensar – pensar em não sei bem o quê. Simplesmente pensando.

Pra passar o tempo.

E esperar a hora para degustar o pão com ovo. Café com leite.

Gosto disso, pão com ovo. E café, preto ou com leite, tanto faz.

A vendedora trouxe o que eu tinha pedido.

Comi pausadamente, mesmo já faminto.

Terminei. A chamei – perguntei-lhe: ---- Quanto devo?

----- Quatro reais.

Paguei, levantei-me, fui embora. Na rua me veio à mente isso: Essa mulher, a do boxe, a que me serviu, fez-me o pão com ovo.

Não soube quem ela é, não soube seu nome, bem, uma desconhecida.

Ela, igualmente, em relação a mim: Não soube quem sou eu, muito menos meu nome – eu, um desconhecido pra ela.

É assim, por quantas e quantas pessoas já passamos, apenas formalmente (vendedores de lojas, caixas de banco, taxistas, caixas de supermercados, por aí vai).

Alguém me poderia dizer, “olha, você poderia voltar lá, com a mulher que te preparou café com pão (e ovo) – e perguntar-lhe o nome, fazer amizade com ela....

Bem, sim, poderia fazer isso. Acho que voltarei lá, àquele mercado. E comer pão com ovo novamente.

Tomar café com leite – ou só preto, tanto faz. Rever aquele ser, a mulher.

Ficar amigo dela, saber qual seu nome.

E eu lhe contar algumas de minhas particularidades.

Salatiel Hood
Enviado por Salatiel Hood em 25/09/2020
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