A MECON, QUE MATAVA CINCO POR ANO

A MECON, QUE MATAVA CINCO POR ANO

Entre os anos 1982 e 1985, trabalhei no Mato Grosso. Morei em Cuiabá, responsável por gerenciar a construção de cinco obras hidrelétricas, quatro PCH’s (Pequenas Centrais Hidrelétricas) uma UHE (Usina Hidrelétrica). Esclarecendo, um aproveitamento hidrelétrico, isto é, que aproveita a energia de um rio para gerar energia elétrica, é classificado como PCH quando gera no máximo 30 MW. Para simplificar 01 MEGAWATT é a energia elétrica capaz de iluminar mil casas. Para ser considerada UHE, a usina deve gerar acima de 30MW. Minhas obras distavam, em média, oitocentos quilômetros de Cuiabá e a utilização de aviões era essencial para desenvolver meu trabalho. A Constran, empresa em que eu trabalhava, disponibilizava dois aviões: um Cesnna monomotor modelo 162 e um Cesnna bimotor 310. Mesmo assim, muitas vezes utilizei serviços de companhias aéreas de pequeno porte da região. Todas voavam sem co-piloto, colocavam uma almofada entre os dois bancos do meio e os dois bancos traseiros, de modo a transportar sete passageiros. O cliente se quisesse voar, tinha que se sujeitar a viajar em um avião de seis lugares transportando oito pessoas. Eram três ou quatro horas apertado em um espaço pequeno, muitas vezes com um piloto recém habilitado que não conhecia a região, sem piloto automático e radar. Quando aparecia uma chuva forte era preocupante, parecia que aquela borboleta ia desmontar. Se fosse cumulus nimbus então, a única saída era contornar, ou retornar, ou pousar no primeiro local que puder e aguardar o tempo melhorar. As nuvens assim, também chamadas de CB’s, são em formato de torres ou couve flor, formadas por correntes de convecção, no interior das quais existe gotas de água resfriadas, e até congeladas, flocos de neve e granizo, tudo isso girando como se estivasse dentro de u liquidificador. Um CB destrói grande aeronaves, as pequenas o CB ele mói. Então, em hipótese alguma uma aeronave pequena entra em um cumulus nimbus, se entrar é suicídio. Havia várias empresa, a melhor era a TABA, Transportes Aéreos da Bacia Amazônica, que utilizava aviões maiores. Mesmo assim, voar em Bandeirantes da TABA era uma experiência complicada. Esse modelo não tinha compensação de movimento das asas e dava impressão de estar em um jipe em uma estrada esburacada. Entre as várias empresas pequenas havia a Mecon. Possuía somente aviões monomotor, cada vôo um piloto diferente, e voava para os lugares mais remotos de Mato Grosso. Fiz três viagens de Cuiabá a Juína, ida e volta, com a Mecon.Na primeira o trem de pouso não locava, isto é, não fixava para a aterrissagem e fomos obrigados a efetuar o pouso sem saber se as rodas iam agüentar e se o pouso ia ser de barriga. Na volta, uma chuva forte sobre Cuiabá obrigou a ficarmos voando por mais hora até pousar. Parecia que o avião ia desmontar. Na segunda vez, outro piloto e este não achava a cidade. Na terceira vez, ao pousar em Cuiabá, o aviai saiu quicando pela pista e, Graças a Deus, i piloto sofreu mas acertou. Quando o avião parou no hangar da Mecon, ouvi uma voz vinda do banco de trás: -Voar na Mecon é a mesma coisa que enfiar uma banana de dinamite no rabo, acender o estopim e ficar rezando para não explodir! Já seguros, todos riram. Avisei que nunca mais voaria pela Mecon. Dias depois, o nosso piloto Raul me falou que um avião da Mecon caíra e matara o piloto e quatro passageiros. Ano seguinte outra tragédia igual. Assim era no Mato Grosso.

Paulo Miorim, 25/09/2020

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 25/09/2020
Reeditado em 11/09/2021
Código do texto: T7072127
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