Poema 20
CONFESSO que sou um romântico incurável.Adoro, vibro, me emociono co o amor. Para mim nada é mais importante que o amor. Marejo os olhos ouvindo canções e lendo poemas de amor, inclusive assistindo a filmes românticos ou dramas de amor. N~çao importa que alguns sejam pungentes, doloridos, melancólicos, tristes ou desesperados. Basta que falem de amor, mesmo de amores perdidos, frustrados, findos. Basta que falem do amor. Adoro até as roedeiras. Juro. Amar é o que nos faz viver. O amor é imprescindível ao ser humano, mesmo, repito, que não dê certo. O interessante é que as canções, poemas e filmes mais belos são de amores que não prosperaram, mas que brilharam. Bo meu ponto de vista, claro, cada cabeça é um mundo.
Vários compositores, cineastas e poetas, cantaram o amor. Mas um deles, o saudoso poeta chileno, Dom Pablo Neruda, afigura-se-me como o pole position, o maior, o insuperável. Seu livrinho arretado 20 Poemas de Amor e uma Canção Desesperada vive na minha cabeceira há mais de 40 anos.Todos os dias releio um poema desse livro. E o que mais gosto é o Poema 20, vou transcrevê-lo:
"Posso escrever os versos mais tristes esta noite./ Escrever, por exemplo: ' A noite está estrelada,/ e tiritam,azuis, os astros ao longe'// Gira ovento da noite pelo céu e canta./ Posso escrever os veros mais tristes esta noite/ Eu a quis, e, às vezes, ela também me quis.../; Em noites como esta eu a tive nos braços./ A beijei tantas vezes debaixo do sol infinito.// Ela me quis, às vezes eu também a queria./ Como não ter amado a seus grandes olhos fixos.// Posso escrever os versos mais tristes esta noite./ Pensar que não a tenho. Sinto que a perdi.// Ouvir a noite imensa, mais imensa sobre ela./ E o vento cai na alma como no pasto o orvalho.// Que me importa que o meu amor não pudesse guardá-la./ A noite está estrelada e ela não está comigo.// Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe./ Minha alma não se contenta com tê-la perdido.// Como para aproximá-la meu olhar a procura./ Meu coração a procura, e ela não está comigo.// A mesma noite que fez branquear as mesmas árvores./ Nós, os de então, já não somos os mesmos.// Já não a quero, é verdade, mas quanto a quis./ Minha voz procurava o vento tocar o seu ouvido.// De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos./Sua voz, seu corpo claro, seus olhos infinitos.// Já não a qero é verdade, mas talvez a quero./ [e tão certo o amor, e tão longe o esquecimento.// Porque em noites como esta eu a tive entre meus braços/ minha alma nao se contenta em tê-la perdido// Ainda que esta seja a última dor que ela me causa/ e estes os últimos versos que lhe escrevo". BINGO! Inté.