VINHO DE GARRAFÃO
Um pouco antes dessa pandemia, estava eu em uma loja de peças aguardando, enquanto instalavam um acessório no meu carro. Estavam colocando uma câmera de vídeo, na verdade eu estava preparando o veículo, pois meio com um pé atrás da minha mulher, tinha planejado quem sabe a minha/nossa última maior aventura. Coisa de quem não consegue passar muito tempo sem pegar uma rodovia.. Seria agora para o mês de setembro. Levei a conversa para o brejo, ou para o mato, diziam lá na minha amada Minas Gerais, não era esse o assunto.
Então, enquanto aguardava a realização do trabalho, um senhor mais velho que eu, que estava lá também aguardando, se aproximou de mim e começamos a conversar, ele falou e eu mais ouvi, não por má vontade minha, mais pela falta de oportunidade. Minha fala se resumia em: a é?! Nossa!! Que interessante!! por aí a fora. Ele falou sobre vinhos. Do tempo em que trabalhou em vinícolas, com um senhor que ele insistia que eu talvez conhecesse.
Falou muito e explicou, mas já esqueci os detalhes, de como é que se fabricavam os vinhos baratos, desses vendidos em garrafões. Segundo ele, falsificados.
Até há um tempo atrás eu gostava de tomar de vez em quando, vinho, caipirinha, whisky, cerveja… mas a minha preferência era por vinho, caipirinha, whisky, cerveja… dá pra ver que eu não tenho muito ou nenhum refinamento nesses assuntos. Parei praticamente com tudo, achei melhor zelar um pouco mais da saúde, as tentações de vez em quando me vencem.
A conversa com aquele homem me fez pretender escrever sobre vinhos, mas tá difícil manter as rédeas, esse assunto tá parecendo um cavalo indomado que insiste em fugir da estrada.
Bom… bom? Talvez o meu inconsciente é que está teimando em não me deixar passar a vergonha de dizer pra vocês que tomei muito vinho de garrafão, desses que nas épocas festivas ficam amontoados nas entradas dos supermercados populares.
Tomei vinhos bons sim, tenho até alguns guardados, presentes que alguém que sempre acha mais fácil de escolher pra comprar.
Nos tempos das “doidices” o que interessava era a quantidade, era garantir o porre inconsequente.
Para que isto aqui não vire uma história sem fim, vou terminar dizendo que arrisquei bastante tomando esses injustificados porres, e o maior deles e que estranho ter sobrevivido, envolvem dois garrafões de vinho dos quais não tomei nenhuma dose.
Era véspera de natal, eu deveria ter uns dezesseis anos, era dia de fazer aquela faxina na oficina; sem responsabilidade com a clientela, a bebida corria solta, então era uma limpadinha com a mão direita e uma viradinha com a mão esquerda. Na hora de ir embora, não contente com o garrafão de vinho tinto que eu tinha ganhado, fui ao armazém ao lado e comprei um outro garrafão de vinho branco. Acho que consegui subir a rua lá de casa porque eram dois garrafões, fosse um só, talvez eu tivesse caído pro lado. Minha mãe colocou um prato de comida em meu colo, eu desmaiei e só fui acordar no dia seguinte quando já estava anoitecendo. Acharam que eu estava dormindo, foram mais de vinte e quatro horas. Quem sabe eu não tenha tido um coma alcoólico.
Qualquer hora vou escrever sobre uma adega inteira de vinhos caros, mas o tema será outro.
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