Esperava você calada. Num silêncio de monastério. Na clausura de meios e devaneios onde o vento uivava mirando o abismo. Não tinha palavras. Não tinha explicações. Eu simplesmente faltei ao encontro. Não justifiquei nem ressaltei nenhum imprevisto. Não queria justificar-me. Estava envergonhada. Mais uma vez, enredei-me no trabalho e esqueci de tudo. O mundo lá fora existindo e, eu aqui, pensando onde seria melhor colocar a citação de Baudelaire: "A imaginação é a rainha do real e o possível é uma das províncias do real".  Você estava visivelmente transtornado. Bufava literalmente. Mas, não tive medo.  Quando sentou-se em frente, fitando-me com olhos de fuzilamento, disparou: - O que houve, afinal?  E, eu atalhei, timidamente já desviando o olhar para o chão. Eu valorizo tudo que você me deu, principalmente o amor. Mas, não estou a altura dele, nem o mereço. Sou um ser inacabado e, ainda procuro muita coisa. E, uma relação séria e compromissada  não está entre minhas ambições. Por favor, compreenda e, não se ofenda. Certamente, você merece alguém bem melhor que eu. Seu olhar raivoso esmaeceu feito fumaça. Os olhos umedeceram com a lágrima contida. Agradeci-lhe por tudo e, parti. Apertei-lhe a mão fria. Nunca mais lhe vi, depois desse dia. Fiquei aliviada por simplesmente falar-lhe o que sentia... E, novamente, Baudelaire me respondeu:"Existe uma certa glória em não ser compreendido". Sou sincericida assumida.
 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 22/09/2020
Reeditado em 22/09/2020
Código do texto: T7069823
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