O LIMIAR DAS OPÇÕES FRENTE À CRIMINALIDADE

Hoje, mais que nunca, fala-se em controle da criminalidade em quase todos os programas de televisão, jornais, filmes, enfim, quer a todo custo atacar os sintomas das questões sociais.

Não que sejamos contra, muito ao contrário, acreditamos realmente que seja através de diálogos conscientes e maduros e, não obstante, envolvendo pessoas capacitadas que as respostas eficazes irão aflorar. Acaso não estejam prontas e definidas.

Acredita-se que um país que não investe significativamente em educação é, infalivemente, sem futuro prodigioso. Sempre será escravizado pelos paradigmas fabricados no primeiro mundo. Estará sempre pronto a consumir da melhor maneira as absurdas e tão renovadas modas, seja no falar, no vestir, no comer, etc; É dizer: será o reflexo em um espelho apontado para o abismo.

Embora no fundo do poço, refletida a imagem devidamente, pode-se abstrair ainda que somos muito felizes, somos penta-campeões no futebol, somos o país do carnaval e por ai vai, haja tempo para comemorar! Será?

Há quem pense que estejamos no limiar decisivo de decidir: ou procura-se encontrar o fio condutor para nos levar à causa de tantas mazelas sociais, que bem sabemos que é a falta de saúde pública, de educação de qualidade, enfim, políticas que melhorem as condições do povo brasileiro; ou então, estaremos ocultando os verdadeiros e denunciadores males latentes, atacando insistentemente os sintomas.

Um sintoma é sempre consequência - e nunca causa - da doença, embora possa vir a tornar-se causa de novos efeitos, ou de novos sintomas. Nesse aspecto, o combate exclusivamente no sintoma não causa eficácia à remoção ou erradicação das causas das doenças.

A próposito, um dia desses li uma história muito comovente que aconteceu numa cidade Mineira, próxima de Belo Horizonte, Nova Lima, por volta dos anos 30. Existe nesta cidade uma mina importante de ouro - a mina de morro velho - que, àquela época vivia seu fastígio, e era propriedade de uma companhia inglesa. Os operários que cavavam dia-a-dia com suas picaretas e brocas enfurnados nas glebas das rochas, terras, respiravam durante anos àquelas "formidáveis e insignificantes" poeiras das pedras.

As insignificantes poeiras das pedras com o tempo, causava a silicose, isto porque para a empresa inglesa os operários mineiros tinham pulmões de aço, e ainda que a poeira colasse aos pulmões daqueles míseros mineiros, era somente questão de um xarope.

A silicose, além de encurtar a vida e a capacidade de trabalho, também provoca uma tosse crônica, oca e ressoante.

Os ingleses, que era e ainda é um povo culto, fino e, acima de tudo, muito humano, montou em Nova Lima uma fábrica de xarope, com banda de música e foguetes, dizem que foi um verdadeiro show a inauguração. Haja alegria! O povo brasileiro sempre mereceu e ainda hoje merece muita festa!

A fábrica, como era de se esperar, produzindo tóneis e mais tóneis de xarope, conseguiu o tão sonhado e dócil lucro. Uniu-se o útil ao agradável. Os ingleses são fantásticos quando o assunto é ajudar a humanidade!

Com isso, a silicose intocada trabalhava em silêncio. Esse modelo tragicômico pode ser aplicado, com estrita literalidade a qualquer pretensão de combater o crime epidêmico sem levar em conta sua condição de sintoma, desenraizado, portanto, das causas sociais que o produzem e alimentam.

Não há como ser convencido de que a criminalidade não seja efeito. A criminalidade está para a patologia social, assim como a tosse convulsiva está para a silicose.

Ora, então quaisquer medidas que sejam tomadas para a erradicação da criminalidade, infalivelmente, serão meros métodos paliativos. É comum ainda hoje, importarmos modelo de combate aos crimes dos ingleses, isto com direito à festas e honrarias, sem contar os altos lucros que eles ainda têm. Mas convenhamos, o senso de ajuda humanitária sobrepõe qualquer mesquinho interesse dos países de primeiro mundo!

É mais que evidente que a criminalidade, enquanto sintoma, tem que ser adequadamente combatida por medidas policiais enérgicas, tanto quanto é imperativo minorar a tosse crônica do silicótico. Mas que não se fique só nisto, já que o puro e ingênuo combate ao efeito não remove - nem resolve - a causa que o produz.

Clovis RF
Enviado por Clovis RF em 23/10/2007
Código do texto: T706958