REFLEXÕES NUM QUARTO DE HOSPITAL

Encolhidinha no canto do sofá, em uma atitude de desproteção total, estou eu, vendo o desfilar das horas intermináveis a espera do retorno de um ente querido do centro cirúrgico.

Coração acelerado, parecendo dizer que a aflição está insuportável.

O medo açoita minha mente, minha alma e meu físico. Retira o meu potencial de vida e restringe os meus movimentos. Por perto ninguém para dar uma palavra ou me tirar deste estado de tristeza profunda.

Choro muito, como se as lágrimas pudessem esmaecer a solidão que esmaga as minhas entranhas.

Calo meu pranto e penso no mundo lá fora. Onde estão os amigos? Eram tantos... amigos de farras, de bares, de churrascadas, de profissão, de ideais políticos e filosóficos e muito outros... Todos eles foram se perdendo.

Tristemente percebo que não tendo no momento nada de bom a oferecer, as companhias se vão. Dramas não são interessantes, risadas amargas pela aridez do momento, também não. Amigos não são para horas de ranger de dentes, são para os momentos de alegria, de “auê”.

Quando você não tem tempo para se divertir, ou dinheiro para tal, você deixa de ser interessante, passa a ser “mala”. E ninguém quer mais saber de você. Problemas, cada um tem que enfrentar os seus.

Por sorte, no meio de “tantos amigos”, quatro ou cinco permanecem. Telefonam, se preocupam, têm sempre gestos de atenção e delicadeza.

Mas os relacionamentos humanos são assim. E Nesse constante ama e desama, acho que alguns corações acabam se transformando em granito.

E é nessa paranóia acerca da minha solitude, que entra o médico no quarto e diz “a cirurgia foi um sucesso. A vida continua”. E eu respondo: Graças a Deus! Com amigos ou sem amigos a vida vai seguindo.

Em 20.10.07 (Hospital Samaritano)

Val Bomfim
Enviado por Val Bomfim em 23/10/2007
Reeditado em 23/10/2007
Código do texto: T706906
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