Quem vê cara não vê coração

Era uma vez, uma senhora; ela era muito conhecida na vizinhança por causa dos seus julgamentos e comentários sobre a vida dos outros. Por exemplo, ela tinha muita inveja de uma de suas vizinhas, pois ela estava sempre sorrindo, parecia ter a vida perfeita. Já sua outra vizinha estava sempre com a cara amarrada, olhando torto para todo mundo, ela dizia que ela tinha “cara de quem comeu e não gostou”; e sobre uns meninos e meninas da rua dela então, ela os julgava bagunceiros, “bocudos”, uns arruaceiros sem educação!

Certa noite, um anjo visitou essa senhora e a levou para um passeio. Primeiro, foram à casa da vizinha que estava sempre sorrindo; ela se assustou ao descobrir que aquela mulher tão doce e sorridente, que parecia ter a vida perfeita, chorava toda noite, estava enfrentando uma terrível doença e um divórcio. Depois, visitaram a outra vizinha, a da cara amarrada; grande foi a surpresa ao descobrir que, desempregada, gastava todo o pouco dinheiro que tinha com remédios para a mãe doente, e fazia uns “bicos” como confeiteira pra poder sobreviver. Por último, o anjo a levou para visitar a casa dos meninos e meninas “arruaceiros”. Ali, descobriu que um deles não tinha nem o que comer em casa, dividia a cama com mais 2 irmãos e, basicamente, usava a mesma roupa todo dia. Uma das meninas estava enfrentando o abandono do pai; e outro casal de irmãos vivia uma verdadeira guerra em casa, entre o pai e a mãe.

Tudo aquilo a chocou profundamente, pois ela descobriu que por trás de um sorriso tão doce e gentil pode haver uma grande dor. Que por trás de uma face amargurada ou de um ato de rebeldia pode haver uma ferida aberta, um pedido de ajuda. Que por trás de um silêncio ou de uma resposta mal dada pode haver um coração em pedaços, uma mente sem direção.

No outro dia, ao amanhecer, ela tomou uma decisão: não mais julgamentos, afinal, quem vê cara, não vê coração, e a partir de agora ela não iria mais espalhar comentários maldosos, mas sim amor, carinho e gratidão! Ela descobriu também que, às vezes, ali pertinho, tem alguém precisando de um colo, de um carinho, de um minuto de atenção, e que embora isso pareça tão pouco ou tão bobo, isso pode resgatar alguém da escuridão!