O MORRO DOS BARBOSAS

O Morro dos Barbosas

Paralelo à Rua Marquês de São Vicente fica a Rua do Colégio, que costeia o Morro dos Barbosas. O nome provavelmente se deve ao fato de a Escola do Povo, fundada em 1893, ter seu primeiro endereço na hoje Praça João Pessoa, antigamente chamada Largo Batista Pereira, a uma quadra do Morro dos Barbosas. Posteriormente, a Escola do Povo tornou-se Grupo Escolar, mudando-se para a Praça Coronel Lopes e hoje é chamada de “Grupão”. Para uma turma de garotos muito ”ativos”, que andavam pelas ruas de São Vicente todas as tardes, O Morro dos Barbosas era uma floresta amazônica, com fauna e flora completas. Tinha pássaros de inúmeras espécies, tinha bicho preguiça. Para quem não conhece, o bicho preguiça alimenta-se quase exclusivamente dos frutos da embaúba, de nome oficial cecropia. E embaúba não faltava no Morro dos Barbosas. A gente subia por uma trilha próxima de casa e encontrava um paraíso: tinha cavernas, pés de ingá, goiabeira, coco brejaúva, cajueiros e várias outras frutas. Tinha uma tubulação de uns cinqüenta centímetros de diâmetro que era adutora de água de São Vicente, captada no Rio Branco. No topo do Morro situava-se a Estação de Tratamento d´água de São Vicente. Nosso acesso ao morro era, preferencialmente, por uma estreita trilha só utilizada por conhecedores, que começava no encontro da Rua Visconde Tamandaré com o Morro dos Barbosas. A gente iniciava a subida e logo chegava a um conjunto de grandes rochas de granito que formavam uma pequena caverna. Ao lado havia uma ingazeira, onde normalmente fazíamos uma parada e comíamos alguns ingás. A ingazeira produz umas bagas semelhantes a vagem e dentro delas cresce as frutas que chamamos de ingá. É uma pequena fruta com polpa, de origem amazônica, mas existe praticamente em todo o Brasil. Seu nome de origem indígena significa embebido ou ensopado, devido a textura meio aquosa, de sabor adocicado e muito saboroso. Pesquisas atuais indicam que a fruta do ingá possui inúmeras propriedades nutritivas, previne diversas doenças, aumenta a imunidade do organismo. Esse pé de ingá era parada obrigatória. Nós sentávamos na pequena caverna e apreciávamos as frutas. Continuando a subida, tínhamos a sensação de sermos desbravadores e cada visita ao morro era repleta de descobertas de plantas, pássaros e pequenos animais. Cada um com seu estilingue, quase todos feitos pelo Cadão, cometíamos o pecado de caçar passarinhos. Catar coquinho brejaúva era uma operação trabalhosa. O coqueiro é cheio de espinhos e normalmente a gente cortava um galho com uma forquilha na ponta, encaixava esta na haste do cacho e torcia. Após muito trabalho, o cacho caia e o apanhávamos. Na maioria das vezes o coqueiro ficava em uma ribanceira e até apanhar o cacho era trabalhoso. No retorno, íamos a casa do Zé Guardinha e, após limpar e assar os passarinhos, servíamos junto com os cocos em um jornal colocado encima de caixotes. Fico triste ao recordar aqueles pequenos passarinhos depenados e assados em uma fogueira.

Outra atividade era deslizar por um longo talude de terra solta,, que chamavámos de barranco, dentro de caixas de papelão. ,Aquilo tinha uns vinte ou trinta metros de extensão e, ao final a pessoa caia da caixa ou capotava e rolava na argila. Final de tarde, chegava em casa vermelho de barro e ,inevitavelmente , levava uns tapas.Mas era muito bom.

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 21/09/2020
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