NINGUÉM SE IMPORTA.

Essa Folha em branco… folha não, página, na verdade é uma folha que virá a ser página, mas enfim, ela não deveria ser manchada com as palavras deste… melhor não dizer.

Por mais rebuscadas que as minhas palavras pareçam, ou, por mais elaboradas que sejam, essas, ditas 'palavras', não alcançará o tom diferenciado é eloquente que tanto eu desejo.

O mundo passa meus queridos, do alto da sacada o vejo correr. Carros, motos, pessoas apressadas, todos passam, carros buzinando, motos empinando, pessoas que riem, que xingam, e correm, e passam…

Parece até um dia comum, é apenas sexta-feira.

No horizonte as luzes da cidade acesas, o dia passou tão rápido que nem percebi, começa a noite, quente, muito quente por sinal, nenhuma brisa para refrescar. Ninguém se importa com isso também.

A Luz do poste bem de frente de casa acende e apaga o tempo todo… ninguém nunca se importa. Nas casas que vejo daqui da sacada, ninguém à porta. Cidade maluca essa. Todo mundo corre em diferentes direções sempre em busca de nada.

Carros, motos, pessoas apressadas, todos passam, retornam, e somem novamente, passos inquietos, carros pequenos e grandes, novos e velhos, que passam e passam, motos que buzinam, que desviam e caem, pessoas que conversam alto, passam com suas sacolas penduradas nos braços, falando da vida alheia.

É dia comum, é sexta-feira.

O cheiro do churrasco invade as narinas, cheiro bom, deve ser o vizinho, seu Roberto, com seus maravilhosos assados, conversa boa, bebidas fortes. Barulho, cerveja, alguns gostam, outros não, e tem aqueles que não se importam. No portão de casa batem palmas, chamam, alguém que pede. Difícil atender a todos, são tantas pessoas pedindo.

A vida passa diante de nossos olhos, vidas que se perdem, isolamento pandêmico ineficaz, irritante, ninguém se importa. Mas, como dito inicialmente, não pretendo manchar essa folha 'página' - não mais em branco - com esse amontoado de palavras não ditas.

Afinal, é sexta-feira.

Ninguém se importa.

O dia foi embora sem muitas novidades, a mesma monótona vida de sempre, sem alterações, repetindo-se sempre é sempre… acordar, café, trabalho, e depois de longas horas volto para casa, banho, jantar, dormir. Cansaço acumulativo, dia após dia, é um ciclo que nunca para, que mata aos poucos. Me sinto um rato na rodinha.

Afinal, é sexta-feira.

Ninguém se importa.

Eu não poderia deixar de concluir essa crônica sem lhes dizer que, vós todos que no futuro pousaram os olhos nas palavras deste cronista de fim de semana. Quero dizer-lhes que estamos findando o ano de 2020, é, não encontramos vacina para a COVID-19, vírus esse que devorou-nós o ano todo. O mundo continua enterrando os seus mortos, os governos estão mais preocupados com a saúde da economia do que das pessoas, e as pessoas por sua vez, mais preocupadas com a cerveja e o churrasco do que consigo mesmas, todos nós fingimos que está tudo bem, mas não está, esse está sendo o ano das verdades… enquanto isso… vou seguindo a vida na monotonia do porto solidão.

É sexta-feira, finalmente.

Ninguém parece se importar.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 20/09/2020
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