RIO/AMSTERDAM. VAN GOGH. LAPIDAÇÃO.

Rio/Amsterdam, voo longo, doze horas de ar refrigerado gelando. Chego em Amsterdam com gripe que não costumo ter. Banho, pequeno descanso, saímos para jantar.

Na Europa, como conhecido, nos restaurantes a distância das mesas é de mais ou menos sessenta centímetros. Restaurantes bons, digamos, quatro estrelas, nos cinco as mesas são distantes. Exceção. Cansamos de ser abordados por pessoas para perguntar se nossa língua era italiana, ou o quê? O português de Portugal é rascante e embolado, nossa língua é cantante como o italiano, e fora isso, onde entrarmos na Europa recebemos logo um “bom giorno”. Não podemos negar que somos italianos, e somos realmente.

Um simpático restaurante praticamente por seu perfil nos convidou, Entramos. Recebidos pela pessoa para isso designada, como costumeiro, nos apresentou o salão e onde queríamos ficar, indicando. Dissemos, qualquer local. E nos conduziu para uma espaçosa mesa, no centro do salão. Ao lado um casal bem idoso. Fizemos o pedido e sempre solicito pão e o vinho prontamente servidos, vou degustando com algum “couvert” ou entrada. Nada como um pãozinho com azeite e um gole de vinho. E lá para as tantas, bato com a mão na copo de vinho que tomba sobre a mesa. Desastre... O casal de idosos ao lado disse, calma não fique aborrecido, isso acontece, é sorte. E logo em seguida disse o senhor, “honey moon” ? Lua de mel ? Acharam que estaríamos nesse eldorado, sim, sempre estivemos, sorte nossa.

E começou a conversa. Minha mulher na época afiada no inglês. O meu é de viagem, mas leio qualquer coisa, fluência mesmo, como no português, só minhas filhas e netas, eu em Orlando olho para elas e babo, avô babão. Não gosto da língua, principalmente do nasalado que fala o americano do norte. O inglês falado na Inglaterra é o verdadeiro inglês, como originário, com som bem mais desejável. Engraçado, gosto de francês e conheço bem, mas viajando tudo pergunto e respondo e peço informações em inglês.

E disse o casal que estava aportado em navio e viajavam o mundo, isso faziam oito meses. Eram americanos, muito educados. E falaram que iriam em breve ao Brasil. Isto tem mais ou menos vinte e cinco anos.

Naquela época viajar de navio era coisa fina e para quem podia, hoje está pulverizado e a “escherechia coli” e outras bactérias que já tombaram muitos estão soltas, e a piscina, ouço dizer, é um fla x flu.

Ninguém me bota hoje em navio. E embarque e desembarque é circo de horrores, filas horas e horas, mais hora marcada para refeições etc.

Gosto de flanar, levantar novidades, ver coisas antecedentemente estudadas antes das viagens.Conhecer cidades e seus mistérios que levanto antes.

Acordei e ainda gripado, estava me protegendo, ar frio em Amsterdam, o hotel bem em frente a um parque muito arborizado e florido, parti para ele e disse a mim, vou me entregar a esse ar puro e acabar com essa gripe. Respirei fundo e assim fui, respirando, como faço em meus exercícios. Em uma hora não tinha mais nada.

Fomos em busca de lapidações assistir o engenho artesanal. É possível e atração turística seletiva para não encher a oficina. Evidente que na saída tentem te vender brilhantes. Conheço por curiosidade e hoje sei distinguir bem se tem carvão, jaça, é branco extra, comum, champagne e quantos pontos, quilates tem, se é comercial ou não. Já foi caro, hoje não é tanto. Aprendi em pequenas aulas com um joalheiro pai de amigo que faleceu faz um mês. Meu avô italiano era relojoeiro e meu pai sabia regular o “cabelo” dos relógios que tinha, cimas, omegas, longines, etc.

Peguei a moda dos relógios, hoje desapeguei de tudo. Embora precisos os relógios movidos a quartzo, se você tem muitos, necessita policiar. Se vazar a pilha difícil recuperar, se começar a atrasar verifique. Mas quem tem muitos quando vai ver já vazou. Relógio bom é automático, e mesmo de corda sem ser automático.

Vou visitar o museu mais sofisticado do mundo em tecnologia, cuja história conheço bem. O Museu Van Gogh. Lá está o famoso “Comedor de Batatas”, tela denunciadora do grande mestre.

Vincent reporta ao seu irmão Théo, que “Apliquei-me conscientemente em dar a ideia de que estas pessoas que, sob o candeeiro, comem as suas batatas com as mãos, que levam ao prato, também lavraram a terra, e o meu quadro exalta portanto o trabalho manual e o alimento que eles próprios ganharam tão honestamente”.

A tela mostra sua consciência social, é o primeiro impulso de Vincent, primeira arrancada da pintura do artista, motivado pelo realismo do pintor Jean -François Millet.

O quadro é de 1885 e está no Museu Van Gogh em Amsterdã. Van Gogh à época desenhou e pintou vistas e paisagens holandesas. Nuenen, onde morava com sua família, serviu de modelo para aproximados duzentos e cinquenta desenhos sobre a vida dos camponeses e tecelões.

Os Comedores de Batatas resgata essa fase e faz como a escola realista que expunha a miséria e o desespero dos mais pobres.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 20/09/2020
Reeditado em 20/09/2020
Código do texto: T7067574
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