JOÃO AUGUSTINHO DE ALMEIDA

JOÃO AUGUSTINHO DE ALMEIDA

Em 1963, devido considerar injusta a demissão do técnico José Eli, o Duda, do Clube de Regatas Tumiarú, escrevi uma dramática carta que foi lida em reunião de diretoria pelo saudoso Sizoca, pai do meu amigo Anadir. Na missiva manifestei meu desligamento do quadro de atletas do clube devido não compactuar com a saída do Duda e “preferir defender outras cores”. Sem outra intenção, liderei uma saída de vários atletas que concordavam com minha posição. Dias depois o Duda foi convidado pelo inesquecível Adalberto Mariani e, junto com ele, eu e outros nadadores nos transferimos para o Clube Internacional de Regatas, de Santos. Eu e Sérgio Heleno havíamos nos destacado como atletas e o fomos bem recebido no novo clube. Hoje reconheço, embora seja eternamente grato ao clube vicentino, foi uma atitude sábia. O Inter era um clube de grande tradição esportiva e Adalberto Mariani é uma grande referência na história do esporte santista. Muito bem recebidos pela equipe toda, rapidamente nos sentimos em casa e começamos amizades que se perpetuam até hoje. Fomos nos integrando cada vez mais e progredindo nesse esporte maravilhoso que amo, a natação. Aos poucos, fomos nos integrando em uma turma que, praticamente todos, eram amigos de infância. Foi uma fase maravilhosa de minha vida. Como toda comunidade, havia várias referências na equipe. Acima de todas, pairava a figura de um grande atleta de uma simplicidade impressionante, que defendia seus pontos de vista mansamente, distribuía conselhos e orientações para nossa turma de adolescentes, amava a natação e ama até hoje. João Augustinho dos Santos era nossa referência, nosso ídolo, não só como esportista, mas como pessoa. Equilibrado, de um comportamento exemplar, aceitava nossas brincadeiras, participava das conversas, sempre conservando uma conduta séria, coisa que nossa turma não tinha muito. João possuía preocupações diferentes das nossas. Enquanto nos preocupávamos com vestibular, serviço militar, etc., João tinha um objetivo definido. Iria mudar para os Estados Unidos e viver lá, trabalhar com natação. Embora já consagrado, havia sido campeão sul americano nado costas, com 24 anos, na época idade de parar de nadar, João Augustinho treinava como um de nós e participava de eventos conosco, nem sempre devido nossa turma ser bastante irresponsável. Como tinha ombros largos, o apelidamos de “João Cabide”, João nunca se importou com isso. Lembro de nossas conversas a beira da piscina sobre Yoga, treinos de luta, e quando João começou a treinar Karatê. Contava suas histórias, eu ficava escutando, aproveitando muitas dicas de vida. Quando o João Augustinha comemorou 25 anos, nos convidou para irmos ao apartamento onde morava no Conjunto “ Jardim do Atlântico” .Eu e o Luís Sérgio fomos os primeiros a chegar e fomos recebidos pela mãe de João, que havia vindo a Santos para comemorar a data.

Sentamos em um sofá e observamos a mesa. No centro desta havia um grande mamão. Luis Sérgio me confidenciou que queria comer o mamão, que nada tinha a ver com a festa. Com muito jeito perguntamos se era possível cortar o mamão e fomos atendidos prontamente. A mãe do João trouxe talheres e dois pratos, cortamos a fruta e comemos na maior cara de pau. A festa começou, foi muito agradável. Ao final, alguns convidados já haviam saído, escutamos uns gritos de “Joãoooooo, Joaõoooooo!”. Olhamos na janela e vimos o Moacir chamando. Ao lado dele, o porteiro reclamando e o Moa mandando o homem calar a boca. Foi muito engraçado. Esse modesto texto é só para lembrar que você, João, mora em nossos corações e é sempre lembrado como um ser humano exemplar. Grande abraço, longa vida.

Paulo Miorim

19 de setembro de 2020.

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 19/09/2020
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