SUBINDO O RIO SENA. VAN GOGH.

Subindo o Rio Sena, eu e minha mulher, anos atrás, na expectativa forte por ir ao encontro de onde se matou, fez fantásticas telas e está enterrado um dos maiores gênios da arte plástica, Vincent Van Gogh.

Em uma grande barca como as do Mississipe e mesmo as antigas que faziam a travessia de Rio/Niterói, subíamos o rio, as pás em movimento circular engolfando e engolindo o rio, vencendo com barulho sedutor e circular a corrente contrária, vagarosamente.

Nos dirigíamos para Auvers Sur Oise, bucólica cidade encantadora beirando o Sena, onde Theo, irmão imensamente preocupado sempre com Vincent, conseguiu que ele lá se tratasse com um famoso médico da época que lá morava, Dr. Gachet.

Um lanche é servido a bordo. Um brunch como falam, um pequeno almoço no curso que faz a barca. Em mesas dispostas no centro da enorme barca onde espaço sobrava surgem os pratos. Irrepreensíveis.

A barca vai descerrando paisagens floridas do velho Sena e de matas como a nossa Atlântica, extensões forradas de coquelicots, pequeninas flores silvestres vermelhas que invadem os quadros de Van Gogh e navegam o rio químico da íris de nossos olhos ao coração, que ao mesmo tempo se acalma e pulsa forte como as águas revoltas e serenadas pelas pás da grande barca.

Uma calma para o espírito, seda para os olhos, crença em algo mais que a vida que vivemos. Não estamos nessa passagem em vão, a natureza nos mostra o que somos, beleza interior.

Chegamos, de pronto vamos à Igreja de Auvers, eternizada por Van Gogh; ninguém, porta aberta. Minha mulher ao entrar tomou um choque, nunca tinha sentido um cheiro de mofo igual em toda sua vida. Pequena, escura, sombria, tinha um pouco do entortado como Van Gogh lançou na tela, que dá um aspecto místico e até de bruxaria, festejada e pódio de visitação no Gare D´Orsay, museu concentrador de grandes nomes e um dos melhores ou o melhor de Paris, o Louvre é uma cidade a ser visitada em anos.

Cidadezinha encantadora, como eles nominam, petit village. Nela o burburinho das cidades perdeu o rumo. O quartinho onde morreu e também eternizado em algumas telas, está lá, na pensão que habitou. Triste e colorido.

Na planície em que desfechou em si um tiro com espingarda de caça velha, as flores silvestres contornam a linha onde se inicia pequena floresta. Ali se alvejou e se deixou ficar sangrando Van Gogh. Socorrido por aldeões negou-se ir para Paris com o irmão Theo que contactado veio rapidamente. Em Paris a morte seria evitada, disseram os médicos locais, mas Van Gogh disse que iria sangrar até morrer. E assim foi.

A filha do Dr. Gachet, por quem se apaixonou, dela não se aproximou, e ela também por ele apaixonada, mas proibida pelo pai de aproximar-se, viciado que era em absinto e dado a andar com prostitutas. Sofreu em demasia; sofreram.

Morto o irmão Theo seis meses após, como se sabe por desgosto pela perda do irmão, foi enterrado ao lado de Vincent como queria, e por obra da mulher de Theo, sua cunhada, unidos os dois túmulos singelos com hera, estando lado a lado com pequena separação, o que induz um túmulo só, com os dizeres, “para ficarem unidos na morte como foram em vida”.

Os dois túmulos em lápide de pedra comum, com nomes e datas de ambos de nascimento e morte. Theo foi seu marchand, morreu pobre o gênio da pintura, anos atrás o quadro que fez de Dr. Gachet bateu todos os recordes de venda na Sotheby´s, casa de leilão, alcançando salvo engano 80 milhões de dólares. Ou aproximado valor.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 17/09/2020
Reeditado em 17/09/2020
Código do texto: T7065794
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