FELIPÃO, O SEGURANÇA
Sujeito simpático o Felipão, da Cachoeirinha. Negro, alto, magro, de riso
fácil, ele trabalhou uns tempos como segurança de banco, dando proteção
armada a estabelecimentos de crédito no centro da cidade.
Eu trabalhava no "Maletta" e, à hora do almoço, descia a Rua da Bahia e
levava dois dedos de prosa com o Felipão, na porta do banco. Uniformizado
e todo de preto, compenetrado, trinta-oitão na cintura, ele conversava e
olhava pra todos os lados, vigiando quem entrava e saía do banco.
Um dia brinquei:- "- E aí, Felipão? Se ocorrer um assalto, você atira mes-
mo? Tem coragem?" - Ele balançou a cabeça, afirmativo, sorrindo gostosa-
mente.
Certa feita, dois indivíduos, gente simples, adentraram o banco lá pelas
quinze horas, indo direto ao gerente. Felipão logo desconfiou da dupla e ficou ligado. O mais baixo se dirigiu ao gerente e o outro lhe dava cobertura. Felipão notou quando o gerente, nervoso, se levantou e foi
até o último "Caixa" dos fundos, seguido pelo baixinho.
O nosso herói veio vindo, decidido e atropelou o companheiro do baixote, aplicando- lhe a seguir uma violenta gravata! O cara quase morre engasgado, pois mastigava um pão de queijo. Em seguida, Felipão puxou
o "38" e gritou para o baixinho, junto ao "Caixa", na companhia do gerente:- "- Péra aí, camarada! Mãos ao alto!"
Pandemônio no banco, clientes se jogavam ao chão, mulheres tinham
crise de histeria coletiva e funcionários se escondiam debaixo das mesas.
No auge do furdunço o gerente gritou:- "- Felipe, largue a arma! Não vê
que o moço é cliente?"
E mostrava o rapaz analfabeto, com o dedão lambuzado de tinta roxa,
tentando, desajeitadamente, colocar sua impressão digital no verso de
um cheque a ser descontado na boca do "Caixa" !...
-o-o-o-o-o-
B.Hte., 17/09/20