Porque Escrevo
Isolamento social, meu coração parecia pequeno. Explodiu no peito. Sou professora, tenho um ritmo de trabalho intenso. Olhar para aqueles olhinhos tristes quando foram avisados de ficariam em casa, até a segunda ordem, baseada na OMS. Foi aquele estarrecimento total. Ninguém mais se concentrou para as demais aulas. Senti, que naquele momento, eles, sequer sabiam que gostavam tanto de ir à escola. Pensei que ficariam felizes com a possibilidade de ficarem em casa, que nada! Foi uma comoção “Ah, não. Ficar em casa professora? Não quero. Vai ser tão chato! Mas o isolamento iniciou. Eu mesma fiquei em choque. O que fazer vinte e quatro horas em casa? Com o tempo, já me perguntava: Onde estão meus alunos? E a ausência de barulho, a calmaria. Claro que a priori gostei. Ia ter mais tempo. Descansar. Podia passear, visitar amigos. Bem assim foi. Teria mais tempo para ir à igreja. Mas como pode ser isso? Se é isolamento social é realmente isolar-se de pessoas, amigos, dos irmãos da igreja.
No começo foi difícil não ir à escola, não pelo prédio, mas pelas pessoas que trabalhavam e as que estudavam. Com o tal isolamento social, veio um desespero por estar sozinha, sem ter com quem conversar, mesmo que estivesse com meus amados familiares. O que era bom, era contraditório ao mesmo tempo, ver as mesmas pessoas todos os dias. Casa, paredes iguais, rostos que se repetem. Apesar de, praticamente só, veio um insight, uma ideia, uma saída. Que coisa estranha, ter de reaprender a conviver comigo mesma. quando pensei que ia ficar em ficar em casa o dia inteiro, não que saísse sempre, mas de vez em quando gostava de comprar ou simplesmente olhar o centro de minha cidade, pois tem uma lagoa e um parque verdinho. O verde das plantas me acalma, parece que a clorofila me deixa bem...
Pensei, logo que iria adoecer, ficar entediada, enlouquecer. Graças a Deus que existe a tecnologia, a internet para fazer a nossa vida mais perto, apesar de distante. Eu precisava fazer a minha vida seguir. Resolvi usar, de verdade, as redes sociais, telefones, celular. Antes, não passava se quer um segundo ao celular, mas aprendi a ouvir mais. Passava horas em telefonemas bem mais longo. O whatsApp passou a ser meu canal mais viável. Algumas pessoas com as quais não tinha muita afinidade, tornam-se minhas confidentes. Reencontrei, online, muitos ex-alunos que fazia anos não víamos, hoje são meus amigos de consultas de textos que faço. Fiquei mais junto ao meu filho, à minha mãe, a minhas cadelinhas. Passei a cozinhar, inventar comidas diferentes, tanto que fiquei gorda e engordei todos em casa, mas tudo bem, é detalhe. O certo é que me reinventei. Estudei coisas que ficava difícil se não parasse um pouco, concentrasse.
O pior momento foi a máscara. Aquilo, no começo me sufocava, mas precisava ir ao supermercado, à farmácia e a tantos lugares, na verdade, fazia minhas coisas e as de minha mãe, já que ela é idosa e precisava ficar mais confinada. Eu sei que não devia, mas digo: estava um verdadeiro tédio, apesar do descanso, do “ficar em casa”. Fiquei dias pensando o que fazer com o meu tempo ou excesso dele, nunca fiquei tanto tempo comigo mesma. Era bom, mas também ruim por demais. Era tempo demais. Durante quatro meses falei com tantas pessoas, bati mais papo que faria pessoalmente.
Até que, em maio vieram as aulas remotas. Nisso me apeguei. Sofri para aprender a usar a tecnologia a meu favor. A favor da minha tão amada profissão. Foi difícil, ainda é por falta de estrutura familiar e financeira dos alunos, mas melhorou. No entanto, o que mais me sustenta, o que me fez reinventar, de fato, foi a Escrita. Sim. Fazer poesia, crônica, memória e tantos outros gêneros textuais passou a ser meu mais novo investimento. Sinto-me mais jovem agora. Perece até que renasci. Quero seguir escrevendo, postando e fazendo alegria para aqueles, que como eu, amam e valorizam a leitura que transforma a nossa vida. Mesmo se isolada ou quando nos encontramos cercados por pessoas que nos amam. Como é bom poder criar. Escrever, no isolamento, é a minha redenção!