Um português
e uma espanhola nojentos
1. Os dois vieram para o Brasil com Dom João VI, que fugia de Portugal com a família real, para não ser preso por Napoleão Bonaparte, que batia na sua porta. Esse português e essa espanhola, que chamei de nojentos, me foram apresentados pelo escritor Viriato Corrêa, no seu livro "História da nossa História", excelente.
2. Portanto, tudo o que disser sobre essas duas estranhas criaturas é da exclusiva responsabilidade do belo escritor maranhense, cujo nome completo é Manuel Viriato Corrêa Baima do Lago Filho. Jornalista, escritor, teatrólogo, Viriato nasceu no dia 23 de janeiro de 1884 no interior do Maranhão e morreu no dia 10 de abril de 1967, no Rio de Janeiro.
3. Primeiro vejamos por que Dom João VI escolheu o Brasil para viver. No seu livro, diz Viriato, que ao pisar no torrão brasileiro, o filho de dona Maria I "percebeu immediatamente que este pedaço de terra americana, era o cantinho idéal para a sua preguiça e para a sua somnolencia, e o mais tranquilo logarejo para viver arredio, das saias impudentes da esposa adultera".
4. Tanto que não hesitou em fazer a longa e penosa viagem de Portugal ao Brasil. É Laurentino Gomes, no seu livro "1808", ótimo por sinal, quem afirma que foram "cem dias entre o céu e o mar em navios improvisados". E em outros capítulos, Laurentino descreve as péssimas condições de higiene que massacraram a família real durante a travessia.
5. Segundo Viriato Corrêa, ainda no seu livro, Dom João VI trouxe para o Brasil "a mais feroz detratora dos nossos costumes, do nosso clima e da nossa gente". Dela, a espanhola, cuidaremos depois. O leitor, que por acaso não conheça a sua história, vai se surpreender com o que sobre ela direi nesta crônica, depois de ler Viriato.
6. Vamos, agora, ao que me trouxe até aqui, ou seja, falar sobre o português e a espanhola nojentos. Começo pelo lusitano.
Sua graça era Luiz Joaquim dos Santos Marrocos, funcionário da Chancelaria-mor do Reino. Viriato o descreve como "um tipo enfesado, de poucas palavras, irritável, óculos, fato surrado, a sofrer de enxaqueca e do fígado".
7. Vivia a escrever para seus parentes em Lisboa falando mal do Brasil. Admitiu Viriato, que ninguém odiou mais o Brasil, do que o senhor Marrocos. Dizia que o Rio de Janeiro era "um inferno authentico" comparando a Cidade Maravilhosa com um hospital. "Quando se encontra qualquer pessoa, não se pergunta se tem saúde, mas, sim, de que se queixa", afirmava.
8. E Viriato: "Nunca ninguém disse de um paiz e de um povo o que elle escreveu para sua irmã ". Marrocos: ..."a terra é a pior do Mundo, a gente indigníssima, soberba, vaidosa, libertina". Para ele nossos animais era "feios e muito venenosos".
Ao pai escreveu: "Eu estou tão escandalizado do Paiz que delle nada quero... e quando daqui sair, não esquecerei de limpar as botas às bordas do Caes para não levar o menor vestígio desta terra". Qui sujeito!
9. E "a mais feroz detratora"? Segundo Viriato Corrêa - pasmem! - foi a mulher de D. João VI. Sobre ela, escreveu: "O maior inimigo, que d. João nos trouxe na sua bagagem de fugitivo, foi a lingua de trapo , irrefreada e navalhante, da sua mulher - dona Carlota Joaquina", cujo nome completo é Carlota Joaquina Teresa Caetana de Bourbon e Bragança (1775-1830).
10. Resumindo, vejam o que ela disse do Brasil ao voltar para Portugal, em 1812. De costas para a cidade do Rio de Janeiro, a bordo do escaler real: "- Mercê de Deus, vou rever terras habitadas por gente".
E, conta Viriato, Carlota ao saltar em Lisboa, "arrancou os sapatos dos pés e atirou-os ao Tejo. Não queria pisar em terra de gente com os sapatos que pisara as terras brasileiras".
11. Por que não conhecer um pouco da vida da mãe de dom Pedro I, nosso primeiro imperador? Nos livros que estudei, lá atrás, não li histórias como estas. Até onde sei, Viriato Corrêa não era homem de cultivar fofocas. E no seu tempo, Fake News ainda não existia...
e uma espanhola nojentos
1. Os dois vieram para o Brasil com Dom João VI, que fugia de Portugal com a família real, para não ser preso por Napoleão Bonaparte, que batia na sua porta. Esse português e essa espanhola, que chamei de nojentos, me foram apresentados pelo escritor Viriato Corrêa, no seu livro "História da nossa História", excelente.
2. Portanto, tudo o que disser sobre essas duas estranhas criaturas é da exclusiva responsabilidade do belo escritor maranhense, cujo nome completo é Manuel Viriato Corrêa Baima do Lago Filho. Jornalista, escritor, teatrólogo, Viriato nasceu no dia 23 de janeiro de 1884 no interior do Maranhão e morreu no dia 10 de abril de 1967, no Rio de Janeiro.
3. Primeiro vejamos por que Dom João VI escolheu o Brasil para viver. No seu livro, diz Viriato, que ao pisar no torrão brasileiro, o filho de dona Maria I "percebeu immediatamente que este pedaço de terra americana, era o cantinho idéal para a sua preguiça e para a sua somnolencia, e o mais tranquilo logarejo para viver arredio, das saias impudentes da esposa adultera".
4. Tanto que não hesitou em fazer a longa e penosa viagem de Portugal ao Brasil. É Laurentino Gomes, no seu livro "1808", ótimo por sinal, quem afirma que foram "cem dias entre o céu e o mar em navios improvisados". E em outros capítulos, Laurentino descreve as péssimas condições de higiene que massacraram a família real durante a travessia.
5. Segundo Viriato Corrêa, ainda no seu livro, Dom João VI trouxe para o Brasil "a mais feroz detratora dos nossos costumes, do nosso clima e da nossa gente". Dela, a espanhola, cuidaremos depois. O leitor, que por acaso não conheça a sua história, vai se surpreender com o que sobre ela direi nesta crônica, depois de ler Viriato.
6. Vamos, agora, ao que me trouxe até aqui, ou seja, falar sobre o português e a espanhola nojentos. Começo pelo lusitano.
Sua graça era Luiz Joaquim dos Santos Marrocos, funcionário da Chancelaria-mor do Reino. Viriato o descreve como "um tipo enfesado, de poucas palavras, irritável, óculos, fato surrado, a sofrer de enxaqueca e do fígado".
7. Vivia a escrever para seus parentes em Lisboa falando mal do Brasil. Admitiu Viriato, que ninguém odiou mais o Brasil, do que o senhor Marrocos. Dizia que o Rio de Janeiro era "um inferno authentico" comparando a Cidade Maravilhosa com um hospital. "Quando se encontra qualquer pessoa, não se pergunta se tem saúde, mas, sim, de que se queixa", afirmava.
8. E Viriato: "Nunca ninguém disse de um paiz e de um povo o que elle escreveu para sua irmã ". Marrocos: ..."a terra é a pior do Mundo, a gente indigníssima, soberba, vaidosa, libertina". Para ele nossos animais era "feios e muito venenosos".
Ao pai escreveu: "Eu estou tão escandalizado do Paiz que delle nada quero... e quando daqui sair, não esquecerei de limpar as botas às bordas do Caes para não levar o menor vestígio desta terra". Qui sujeito!
9. E "a mais feroz detratora"? Segundo Viriato Corrêa - pasmem! - foi a mulher de D. João VI. Sobre ela, escreveu: "O maior inimigo, que d. João nos trouxe na sua bagagem de fugitivo, foi a lingua de trapo , irrefreada e navalhante, da sua mulher - dona Carlota Joaquina", cujo nome completo é Carlota Joaquina Teresa Caetana de Bourbon e Bragança (1775-1830).
10. Resumindo, vejam o que ela disse do Brasil ao voltar para Portugal, em 1812. De costas para a cidade do Rio de Janeiro, a bordo do escaler real: "- Mercê de Deus, vou rever terras habitadas por gente".
E, conta Viriato, Carlota ao saltar em Lisboa, "arrancou os sapatos dos pés e atirou-os ao Tejo. Não queria pisar em terra de gente com os sapatos que pisara as terras brasileiras".
11. Por que não conhecer um pouco da vida da mãe de dom Pedro I, nosso primeiro imperador? Nos livros que estudei, lá atrás, não li histórias como estas. Até onde sei, Viriato Corrêa não era homem de cultivar fofocas. E no seu tempo, Fake News ainda não existia...