EXTRATERRESTRE
Murilão, solerte repórter da PRK-20, Rádio Pandeiros de Januária, norte de Minas, se gabava de ser um jornalista investigativo, "um dos melhores
do Brasil, sem falsa modéstia", costumava dizer.
Certa feita surgiu boataria na localidade, dando conta de que um disco voador estava aparecendo por lá de madrugada, assustando bichos
e moradores daquele rincão às margens do São Francisco.
Murilão resolveu investigar. Preparou matula, enfiou-se no blusão de
couro negro, trepou na sua moto valente e, gravador a tiracolo, partiu no
meio da noite alta para um sitio nas adjacências, um capoeirão lá pelas
bandas do rio.
Era uma linda noite de céu estrelado, a lua cheia derramava claridade
leitosa por toda a natureza. O repóter estacionou próximo a um barran-
co e ficou ligado, certo de que a vigília haveria de ser longa.
Apanhou duas espigas de milho assado na mochila que trazia às suas
costas, debulhou-as e principiou a mastigação, lenta mas precisa, que
nem burro de tropa.
Lá pelas tantas, um grande clarão tomou conta do sítio. O repórter in-
vestigativo percebeu dois enormes faróis de luz, cerca de uns cincoenta
metros adiante, um ao lado do outro e, entre eles, surgiu uma criatura
de baixa estatura, cabeção enorme, braços finos e longos.
Murilão, esbaforido, toma de um megafone e dá um jeito de se comu-
nicar com a estranha criatura:- "- Murilo Silva, repórter da PRK-20 de Januária, fazendo contato imediato de terceiro grau!..."
E logo em seguida a resposta inusitada, num sotaque carregado de
nordestino, vindo de junto do baita caminhão pipa com os grandes fa-
rois acesos no meio do mato:-
"- Severino Ferreira, pernambucano cabra da peste, fazendo necessi-
dades fisiológicas!..."
-o-o-o-o-o-
B.Hte., 16/09/20