JANILSON morou em diversos lugares antes de por os seus pés sobre o solo da cidade. Foi para ser farmacêutico, mas acabou sendo mais marido da Geoconda que farmacêutico propriamente. Ninguém adoecia. E quando alguém sentia uma dorzinha de nada em algum lugar do seu corpo, sabia que chá tinha que tomar. Agora Janilson tinha bem claro a explicação do fato, a cidade nunca havia tido uma farmácia antes dele. Por sorte, ou azar, acabou se casando com a moça feia, mas rica. E com o dinheiro dela foi vivendo naquele canto de mundo. Jogava futebol muito bem, mas não gostava do time. Na verdade não gostava do nome. Como um flamenguista roxo ia jogar e fazer gol por um time que se chamava Botafogo? Se fosse Bangu, Bonsucesso, tudo bem. Mas Botafogo? Sugeriu que mudasse para o nome da cidade. Mas até mesmo os outros atletas flamenguistas ou vascaínos não compraram a ideia. O time em questão tinha uma história gloriosa com esse nome. Já aplicara goleadas elásticas sobre os rivais da região. Ele tentou fundar o seu clube. Seria Flamengo. Não conseguiu. Ou jogava no Botafogo, ou ficaria sem jogar. Seria considerado traidor, e até mesmo expulso do lugar, se fizesse parte de outro escrete regional. Naquele tempo todo mundo defendia o clube local e pronto. Desistiu de jogar. A mulher gostou. Teria o marido para ela nas tardes de domingo. Enganou-se. O farmacêutico começou a ler os livros do pai dela. Foi gostando dum tal de Camões e passou a rabiscar alguns versos. Era fuga, ele sabia. Os monstros que povoavam a pequena cidade eram maiores e mais terríveis que as criaturas imaginárias do Atlântico. Viver ali passou a ser para ele uma verdadeira epopeia.