O Saber Precisa Ser Repassado

Por Nemilson Vieira (*)

Os saberes devem ser perpetuados de geração a geração.

Não devemos ser egoístas, a ponto de reter um conhecimento que detemos…

Numa prosa com Geraldo, ligado ao mundo do trabalho, eu soube de um fato interessante no tocante ao ‘repassar o saber’.

Este amigo trabalhou por muitos anos, numa conceituada empresa gráfica, na capital mineira.

Dentre os muitos equipamentos para a execução dos serviços, estava uma impressora “Offset.” — De fabricação alemã. Outro dia, o Mestre Afonso fez-me conhecer uma relíquia dessa, na sede do Ministério da Fazenda, Minas Gerais, ainda em atividade. Essa 'raridade' de máquina era o carro chefe da empresa do Geraldo; razão de ser da instituição prestadora de serviços e dos seus colaboradores. — Que dependiam dela para manterem as suas famílias.

Não houve uma preocupação, por parte da administração, no qualificar pelo menos mais um funcionário para o trabalho com a dita máquina.

Somente o Celestino sabia como ninguém, operá-la. — Desde que a firma se estabeleceu, por volta de 1960.

“Quem quiser aprender sobre essa máquina, como eu que vá a São Paulo.” Comentou uma vez.

Qualquer folga, o Celestino estava com a flanela na mão; a remover uma sujidade real ou imaginária, do seu instrumento de trabalho. Tinha ciúmes do equipamento: ninguém podia passar por perto; que ele o acompanhava com um olhar esquisito.

Pela manhã o Geraldo batia o cartão de pontos e assumia o seu posto de trabalho… Logo soube dos colegas de trabalho o que acontecera com o Celestino, o único cooperador a operar a tal máquina de impressão. — Sofrera um enfarte fulminante, que o levou ao óbito. A produção da empresa estagnou-se de imediato. Ninguém sabia trabalhar com o "Offset." A demanda por aquele serviço só aumentava.

Tentaram de tudo quanto foi jeito sanar aquele problema: contratar alguém para substituir o Celestino. Inúmeros anúncios em classificados, a procurar um profissional habilitado para ocupar aquela vaga e não tiveram êxito. Estava decretado então, a falência da instituição. Não demorou e, todos os trabalhadores estavam demitidos.

O desemprego que já estava muito no Brasil, na chamada Década Perdida (1980) aumentou.

*Nemilson Vieira

Acadêmico Literário

(19:09:16)