Torres Gêmeas
Sobre o 11 de Setembro (Tuesday, September 11th, 2001):
Eu tinha sete anos e estava brincando de efeito dominó com as fitas Cassette no tapete da enorme sala de minha avó. Eram fitas que guardavam momentos de família, como o registro do meu batizado, por exemplo. A gente presente estava assistindo qualquer coisa na tevê e me censurando, de quando em quando, pelo barulho do choque entre as fitas enfileiradas quando eu, tomado por um contentamento que só às crianças é permitido experimentar, desencadeava, com o dedinho, o fascinante efeito cascata só para ver os objetos indo a baixo levados uns pelos outros. Tudo acontecia muito rápido. Tudo fora planejado por mim e eu via a tudo com imenso orgulho e satisfação. Subitamente, quando eu principiava a restituir as fitas aos seus lugares pré-determinados, ouvi um chamado proveniente da tevê que arrancou de todos os presentes na sala exclamações pavorosas. Era a jornalista que narrava, com ar de assombro, o que ouvíamos como "atentado terrorista às torres gêmeas em Nova York." Não conservo nitidamente na memória minha reação às palavras da jornalista, só atinei para a importância do momento quando ouvi, apreensivo, as exclamações daqueles que estavam sentados no sofá: "Olha, meu Deus do céu!", "O que é isso, meu Senhor?", "É o fim do mundo!", "É mesmo a volta de Christo!". Parecia que o mundo chegava ao seu termo naquele início de século XXI. Voltei os olhos para o tapete e gritei impropérios malcriados contra um tio que chutara, sem querer, um dos objetos do meu projeto infantil.