QUERO ME PENITENCIAR...

Fui muito impulsivo quando jovem, sou um sanguíneo como se classifica em temperamento. Tive dificuldades com isso, criado por uma mãe fina, pintora e pianista, de sutileza em educação rebuscada. Meu pai um professor e apurado intelectual, advogado de renome e magistrado no quinto constitucional do Tribunal do RJ. Eu adolescente veloz e querendo ganhar o mundo, ser mais veloz do que a velocidade. E queriam me travar, perderam o primeiro filho com dois anos, irmão que não conheci. Não compreendia esse elemento da equação. Fator exponencial. Nasci meu pai tinha 41 anos.

Brigava com minha sombra. Frequentava tatames amadorísticos de um MMA onde não se ganhava dinheiro. Era o prazer das lutas marciais. E pior, meio de serenar temperamentos, ao invés, praticava nas ruas em quem me incomodasse. E me lembro de meu pai uma vez me dizer, diante de um fato com policiais, em quem bati muito, mas levei borrachadas nas costas que dele não podia esconder, quando me viu sem camisa, disse logo, advogado criminalista que foi "quem te bateu nas costas com cassetete?", tive que falar. E disse que temia ter que se aposentar da magistratura para me defender como advogado diante das minhas bravatas. Pois quebrei os dois guardas e deu coisa.

Como lamento, hoje, essa frase que ouvi.

Por que digo isso? Para me penitenciar do que adjetivei sobre personagens rasteiros da história, que tanto mal fizeram a todos nós, e entendi que nem como comicidade merecem cena. Entendi mal...direito de expressão.

Isso levantou meus instintos primitivos, embora saiba me conter ao máximo já faz tempo, mas tisnei meu estilo de escrever com pejoração e adjetivação indevida. Felizmente um desforço de linguagem, somente.

As personagens negativas não merecem consideração mesmo com pejoração, assim entendo, mas de qualquer forma ninguém tem que recepcionar súbitos destravamentos de posições não aceitáveis.

E faço-o para ratificar o estilo que segundo o clássico João Monteiro é força, mas não a força que compromete o próprio estilo. Me penitencio de sair do leito da sensatez, é um dever que devia a meu interior básica e principalmente, penitência como juiz de mim mesmo, veículo para limpar a alma, mas que extravasa e tem dirigência para quem possa ter de qualquer forma sentido o gravame de ler um certo impropério.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 10/09/2020
Reeditado em 10/09/2020
Código do texto: T7059786
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