Quando adentra o amor aparece o desencontro!
Quando adentra o amor aparece o desencontro nas palavras que escorregam por entre os dedos da insanidade que nos atinge, quando nos apaixonamos. Os vocábulos racionais somem e passam a se mover pela ação do próprio peso ou pela velocidade adquirida pela a ausência das razões do amor. Segundo o Padre Antonio Vieira, o amor é sempre menino, pois quando entra o amor some a razão. “Pinta-se o amor sempre menino, porque ainda que passe dos sete anos [...], nunca chega à idade de uso da razão. Usar razão e amar são duas coisas que não se juntam”. Leio, releio milhares de livros, estudo e pesquiso, no entanto o meu entendimento sobre o amor parece quase nulo quanto mais vivo mais sequelada, torno-me em relação a esse sentimento mortal e cabal. Não estou discorrendo a respeito do amor/amizade em estilo aos casais que vivem muitos anos juntos e andam de mãos dadas e tal.
Estou falando daquela coisa visceral: a paixão que nos arrasta para os submundos e para as crateras que corroem tudo ao nosso redor por aquela amor/paixão. Os psiquiatras e estudiosos da mente prescrevem um tempo para duração de toda essa agonia: dois anos ou seja são vinte quatro meses em que não enxergamos nada além ser amado ou detestado aos olhos dos outros. Não há quem não tenha experimentado ao menos uma vez na vida as sensações provocadas pela paixão. De acordo com a ciência, essa fase inicial do amor é uma alteração intelectual, na qual um coquetel de hormônios e substâncias provoca sinais como euforia, tremor nas mãos, palpitação, mudança de humor, intensa saudade, dependência emocional e, por fim, a observação somente das qualidades da pessoa amada.
O grande problema do amor/paixão é que temos consciência da falta de qualidades do pseudo-amor, entretanto seguimos nos consumindo, pois existe uma química corporal que nos atinge quando o ser se aproxima de nós. Vejo muitas pessoas criticarem ferozmente, mulheres e homens em relacionamentos tóxicos aos quais são explorados e usados em nome do tal amor. Talvez essas pessoas nunca sentiram a emanação de uma grande paixão invadindo-os, apesar da agonia/dor, ainda assim ,deram-lhes muitas felicidades. Embora, eu ache o amor/paixão muito complicado, Já o senti, em pelo menos duas vezes. Fui muito feliz/infeliz sem jamais conseguir dimensionar o quanto de alegria ou tristeza entraram na minha vida. Por outro lado, a piedade se abate sobre mim, quando vejo pessoas que jamais foram batidas por uma paixão. Termino com esses versos divinos sobre a dor paradoxal do amor interpretado pela Bethânia escrito pela compositora portuguesa Dulce Pontes.
“Nesta luta, esta agonia,
Canto e choro de alegria,
Sou feliz e desgraçada.
Que sina a tua, meu peito,
Que nunca estás satisfeito,
Que dás tudo... e não tens nada.”
"Sermão do Mandato". In Sermões. Rio de Janeiro, Agir, 1957.