Jânio, álcool, comício e pronomes

QUERO deixar bem claro que quando da eleição de Jãnio eu ainda não era eleitor,era adolescente mas torcia pelo Marechal Lott. Cheguei a ver Jãnio na campanha, com um rosário de coco no pescoço,despenteado e com a gravata frouxa e o terno amarfanhado e aqueles óculos de fundo de garrafa. Uma figura meio estranha surrealista, mas guardei na meória vários episódios da campanha e do seu breve governo, extraída de jornais e revistas,além dos livros de Sebastião Nery. Ontem falei do fi-lo porque qui-lo, hoje vou contar mais dois fatos, um do governo e outro da campanha.

O primeiro é do governo (Maria Inês até tocou nele num comentário ontem). Jânio estava no seu gabinete no palácio no seu relax habitual, tomando umas lapadas,não se sabe se da branquinha ou de uísque(só tomava caubói), quando entrou um ministro abstêmio e muito religioso, nao sei se foi Brígido Tinôco ou outro, e meio constrangido perguntou:

- Presidente, por que o senhor bebe álcool?

Jânio tomou mais um gole e respondeu com aquele seu jeitão:

- Belo porque é líquido, se sólido fosse,COME-LO-IA.

O segundo aconteceu na campanha, em Caxias,RGS. Jânio foi recebido no aeroporto da cidade às seis da tarde pelo padre Giordani que fazia a sua campanha na cidade.O padre tinha convidado o povo para saudar Jânio nas ruas.No aeroporto já havia um carro aberto esperando o candidato para um desfile triunfal pela cidade. Jânio chamou o padre:

- Nada disso,quero um carro fechado, bem fechado.Vou direto para o hote e por ruas ínvias, sem passar nocentro da cidade.Tu-do mui-to rá-pi-do.

O padre:

-E o povo, presidente?

Resposta de Jânio:

-O povo? Quem conhece o povo sou eu, padre.Conheço nas faces e na ala. O povo quer mais me ver do que me ouvir. Pois se quiser me ver que vá também ao comício. VER-ME-Á E OUVIR-ME-Á.

À noite a praça estava repleta de gente.Não sei se ele caprichou nos pronomes.Era uma figuraça . Surrrealista.Inté.