A DAMA E O VAGABUNDO
Fazia eu a caminhada matinal pelo calçadão da Avenida Bernardo Vascon-
los, aqui em Belô/MG, quando, ao passar defronte à Padaria Cachoeirinha,
presenciei a cena inusitada:-
Uma ambulância (sem doente à bordo) tentou fazer a conversão proibida,
frente à padaria, para retornar ao Minas Shopping, mas parou diante de
um bêbado que dizia impropérios bem no meio da pista.
Os adeptos do "Cooper" interromperam a caminhada para observar e cur-
tir o episódio. Os carros que vinham atrás foram parando e logo se formou
ali um pequeno congestionamento.
O bêbado, incentivado pelo povo que berrava "- Contramão, é contra-mão, prezado!", postou-se na frente da ambulância com as mãos espalma-
das no para-brisa, cabeça baixa, na vã tentativa de empurrar o veículo para trás.
Aí, uma senhora baixinha, morena, óculos escuros, bermuda aperta-
dinha e tênis coloridos, caminhante como eu, resolveu agir por conta
própria. Adiantou-se, acercando-se do "bebum" , tocou-lhe o braço deli-
cadamente e falou, cheia das boas intenções:- " - Moço, quer ajuda?"
E o pinguço, olhar de peixe morto, num bafo insuportável, retrucou
alto e bom som para espanto da jovem senhora:-
"- Só se ocê me der um beijo na bôca!..."
Gargalhada geral da plateia e desconforto da moça, toda sem graça.
Faces ruborizadas de puro nervosismo, logo ela reagiu:-
"- Pois então morra atropelado, seu bêbado cretino!..."
Voltou ao calçadão, retomou sua caminhada, passou ao meu lado e
disse, toda agitada:- "- Ai, que ódio meu Deus! Logo na minha primeira
boa ação do dia!..."
Apressou o passo e sumiu em meio aos caminhantes daquela bonita
manhã!....
-o-o-o-o-o-
B.Hte., 09/09/20