O LEITO. A VOLTA À INOCÊNCIA.

Nascemos, nada sabemos, morremos, continuamos nada saber.

A cama é o instrumento de transformação que nos liga ao chegar à vida corpórea e a deixá-la. Nela, em princípio, somos concebidos, nascemos, depois nela morremos. É, portanto, o grande veículo transcendental unindo os pontos indecifráveis dessas vidas, sofrida sua busca, como e de onde viemos e para onde vamos. Um mobiliário metafísico como entendido por muitos literatos onde também se dá a maior força da natureza, o amor, que concebe ou não. Nela essa palavra mágica produz as maiores felicidades ou desgraças. Por ela chega-se ao paraíso prometido ainda vivo ou aos mais profundos lamentos da vida. Se o amor se expande somos invadidos de graça, se ausentado deixando lágrimas, apossados ficamos das mais terríveis incertezas que formam as grandes depressões.

Ficar novamente inocente da mesma forma que se apareceu no planeta, seria a chave de limpar as grandes manchas que colorem de negatividade o mundo desde a formação da consciência, e exclusiva forma de começar de novo sem a mácula e o sabor féleo, azedo, do romântico pecado original.

Em um grande salto de caráter sombrio, o homem saiu de sua originalidade mesmo em pecado, para o que se tornou núcleo do capital, da cabeça, o pecado maior e arrasador, fazendo de seu semelhante um permanente algoz em sua visão egoísta. Só por isso temos tudo que transita pelo indesejado; o mal.

“A dor, física ou espiritual, é a prova viva de que o homem perdeu algo, mas não perdeu tudo”, como de sua arquicadeira de magistério ensinou Santo Agostinho.

Por que assim me manifesto? Pela certeza de que sempre e algo de grandioso acontece em favor do bem, da igualdade, da paz e da liberdade. Há um sinal dos céus de que nem tudo se perdeu como assevera Santo Agostinho, sendo possível voltar à inocência responsável, a que não tripudia, frauda, corrompe, mata, forma terrorismos e principalmente alimenta a raiz disso tudo negando as liberdades fundamentais. Só o opróbio, a baixeza, o vilipêndio, a sombra do caráter pode negar e se alinhar com a restrição da liberdade humana.

O que não posso assimilar, muito menos entender e nunca compreender, é o deserto das negações, a proliferação das nulidades, do lixo cultural de fala cruzada, capenga, mostrando seus ares hoje em geral expandidos, a bradar em todos os cantos a vontade de uma tradição cega impulsionada pelo pontificado da mediocridade que empobrece a educação no fundo e na forma.

Novos haustos de vida necessitamos, novos leitos onde se morra de amor pelas belas causas, onde principalmente não se recuse a liberdade de todos, fazendo apologia das dominações ditatoriais, para nascer de novo a esperança, mesmo não sabendo um dia pela morte física, no mesmo leito do nascimento, para onde vamos, mas sabendo minimamente em inocência responsável e prudente, consciente, que na vida nada se fez em obstrução às liberdades, nada.

No momento o mundo ouve um novo apelo para essas verdades, que os leitos se cubram de amor pela inocência que define o bem.

E que essa inocência nascida viva não se torne muda de caráter, morta negando amor por negar a liberdade.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 08/09/2020
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