Se tem um instituto do qual tenho total domínio sem nunca ter feito sequer uma especialização é a procrastinação. Vai dizer que você também nunca abusou da arte de adiar? Uma decisão, uma viagem, uma conversa, um encontro... Na última sexta-feira, enviei mensagem para um amigo com a promessa de que, após a pandemia, o encontraria em sua “nova casa” para celebrar seu aniversário. Respondeu, expressando sua felicidade e afirmando que não deveria ser, a pandemia, um divisor de águas, máscara e álcool em gel funcionam bem! Se pudesse voltar no tempo... Ou quem sabe cancelar o encontro, universo conspira... Depois do último ofício religioso, despediu-se, indo dormir seu último sono: mal súbito. Antes que Balsac o visitasse. Não pretendo vê-lo tão cedo, apesar da saudade e das lembranças que guardarei com ternura de grandes aventuras pelo mundo: era especial demais pra viver nesse labirinto. Com ele aprendi que silêncio e boa vontade são virtudes dos fortes, mesmo fraquejados. Mas, enfim, uma hora cola esta desculpa que invento para justificar a inércia diante da vida ou quem sabe a própria vida me dá um pontapé? E mesmo chocada pela violência, cambaleando, já me apego logo ao impulso? Rupturas inevitáveis nos vem como tempestade. Passam, mas o estrago é inevitável. Ou se domina a arte ou a ela te domina! Claro que não precisa decapitar o instituto e ofertar numa bandeja. Há algo de bom na procrastinação: não dá pra ser “cidadão utilidade” o tempo todo. Robôs, só para fazer o serviço de limpeza da casa... Sem delongas e sem culpa. Bom mesmo seria prender esse ladrãozinho do tempo que mora em mim (ao menos por uma temporada)!